Texto de Sara Oliveira
Virgínia Abreu é uma das empresárias de referência na indústria têxtil. Lidera o grupo Crispim Abreu a partir de Riba de Ave (Famalicão), mesmo que na juventude não fosse esse o objetivo.
Nessa altura, sempre se imaginou “como jornalista a fazer reportagens em cenários de guerra ou em acontecimentos de grande relevância”. Também se via advogada, “a defender causas humanitárias ou pessoas desfavorecidas”. As circunstâncias levaram-na para outra profissão.
Ser repórter ficou para trás. No entanto, há sete anos, licenciou-se em Direito, na Universidade Católica do Porto. O país “estava a passar por uma fase de mudança” e resolveu arriscar. Tinha 49 anos quando voltou aos estudos, partilhando os corredores com os filhos, Crispim José (Pimzé) e João, e usufruindo do desconto nas propinas para famílias.
“Os assuntos abordados nas aulas eram facilmente relacionados por mim a situações já experienciadas. Essa relação foi bastante interessante e enriquecedora”, conta. Com o canudo na mão, mas sem estágio feito, limita-se a aplicar as leis em uso próprio ou a aconselhar os funcionários. Exercer poderá vir a acontecer, mas será pro bono e quando tiver mais tempo.
Aos 61 anos, Virgínia Abreu julga estar “muito distante” da reforma, pretendendo “trabalhar enquanto for capaz”, lado a lado com o marido, Crispim Abreu, que dá nome à empresa criada em 1981. Os dois tornaram-se sócios mesmo antes de subirem ao altar, depois de se terem reencontrado na fábrica têxtil onde Virgínia trabalhava como comercial, após outras experiências profissionais. Filha de fotógrafos, passou pelo estúdio dos pais e explorou um talho, mas seria nos “trapos” que se notabilizaria.
Aos 24 anos, aventurou-se na confeção com três funcionárias e uma mesa de corte. Hoje, emprega cerca de 300 pessoas e foca-se na exportação, sem temer a concorrência asiática e turca – acredita na qualidade. Entre os principais clientes estão a Inditex (grupo que detém a Zara, Bershka e Massimo Dutti) e a Agatha Ruiz de La Prada. Soma ainda a vertente têxtil-lar, com a marca própria Casa Soft.
“A audácia é sempre o ponto de partida para o sucesso, mas não chega. É necessário conhecer bem a área de negócio, trabalhar muito, espírito de sacrifício e de resiliência, visão e bons conselheiros, porque não é caminho que se faça individualmente.”
Entre a gestão dos negócios e a vida pessoal, encontra tempo para abraçar diversas causas solidárias, sublinhando um sentido social que conhece desde criança e que os anos consolidaram.