Viajar pelo mundo numa tábua de queijos

Os portugueses começam finalmente a descobrir - e a render-se - a paladares únicos, produzidos no estrangeiro.

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É ponto assente que os queijos são um dos fatores de excelência da gastronomia portuguesa. Poucos conseguem resistir à textura amanteigada de um Serra da Estrela ou de Azeitão. No entanto, quando se trata de queijos estrangeiros, as combinações são infindáveis, mas há quem “torça o nariz”.

“Primeiro estranha-se, depois entranha-se”, defende Ana Rosa, proprietária da loja Say Cheese, no Porto, parafraseando Fernando Pessoa. É o que costuma dizer aos corajosos que se atrevem a provar um pedaço do queijo de cabra francês, Valençay, curado em cinza de carvão. Sim, cinza. Mas nem por isso menos delicioso.

Os hábitos alimentares dos portugueses estão a mudar. As cozinhas recorrem a novos produtos, nomeadamente aos queijos, que quase nunca faltam numa boa refeição. A empresária sublinha que “nem todas as pessoas têm a possibilidade de ir ao estrangeiro conhecer sabores diferentes” e o queijo, que tem a vantagem de ser “consumido como entrada, prato principal e sobremesa”, pode enriquecer ainda mais a cozinha tradicional portuguesa com “pratos distintos” para qualquer momento do dia. “É sempre interessante trazermos produtos de toda a parte do Mundo”, remata.

“O consumidor vem principalmente à descoberta de sabores e nós também incentivamos a que os provem”, conta Alberte Pérez Díaz, proprietário da Queijaria do Almada. O empresário espanhol explica que “da mesma matéria-prima há uma imensidão de paladares e texturas”. “É um mundo, o mundo do queijo”, ri-se.

Serve de exemplo os queijos Gouda, da Holanda. António Luís, proprietário da Queijaria Amaral, revela que são os mais variados. “Há com tomate, lavanda, azuis, vermelhos, verdes, com nozes, trufas, uma grande variedade de queijos e paladares”, especifica. “Consumidos? Sempre com um bom vinho”, diz António, entre gargalhadas. “Principalmente um do Douro – estamos no Porto.”

Se na cidade Invicta, em alta do ponto de vista turístico, já começam a surgir queijarias especializadas em produtos estrangeiros, é em Lisboa que os consumidores se mostram mais abertos às novas tendências. “Os queijos estrangeiros transmitem uma cultura que não existe em Portugal”, alega Pedro Cardoso, proprietário da Queijaria. “Está muito aquém do resto da Europa. É preciso investir no conhecimento, do produtor e do consumidor.”

E ninguém melhor para analisar o consumo de queijo fabricado fora de Portugal do que um estrangeiro. A NM bateu à porta da Fromagerie Maître Renard, em Lisboa, onde os clientes podem descobrir “o que a França faz de melhor: comida”. Leonie Benoist e dois amigos de longa data deram vida ao projeto. “Ficámos maravilhados com o quanto os portugueses são acolhedores e apaixonados pela cultura e quisemos oferecer algo em troca”, recorda o empresário.

Para a Corriqueijo, em Braga, “os portugueses são um povo que aprecia comer, degustar e saborear”. “Faz parte da nossa cultura.” Por outro lado, não deixam de “viver a vida a correr, sem tempo para pequenos prazeres, como o queijo”, sublinha Cátia Freitas, proprietária da Rota do Queijo, em Guimarães.