Há encantamento na sopa de Lillian Barros. Basta adicionar umas gotas de limão para que a consistência do preparado passe de roxo a cor-de-rosa. É um caldeirão mágico que se pode transformar numa sopa assombrosa. A criatividade não tem limites e até um fantasma pode aparecer no prato. Afinal, também se pode brincar com a comida. É só dar asas à imaginação e degustar uma refeição cheia de saúde em família.
“Devemos tornar a refeição mais divertida, criar uma história com o prato e envolver a criança”, realça a nutricionista. Com um toque de originalidade.
Sem castigos ou disputas, há que persistir, oferecendo várias vezes os mesmos legumes. “É normal que as crianças comecem a rejeitar alimentos a determinada altura do seu crescimento”, prossegue Lillian.
Para contrariar as reações negativas e incutir a velha máxima de que a sopa serve de entrada à refeição, pais e filhos devem comer o mesmo. “Os pais servem de cópia dos hábitos alimentares”, frisa Rita Teixeira. A especialista em nutrição, que dá consultas em Lisboa e na Lourinhã, guarda uma frase desde os tempos da faculdade: “SOPA é um acrónimo de Solução Ótima Para Alimentação Saudável”. Escutou-a de um professor.
Estimular a criança visualmente, através de cores vivas, desenhos ou louça divertida, diminui a resistência à sopa. A cenoura ou a abóbora pintam a taça de laranja. Já os brócolos, os espinafres ou a curgete mudam o tom para verde.
Graças à batata-doce roxa, a proposta de Rita Teixeira é lilás. É fácil de fazer, “riquíssima do ponto vista nutricional” e com “um elevado teor de antioxidantes”. Uma boa sopa utiliza o azeite como “gordura preferencial”.
Para Maria Gama, também nutricionista, é fulcral “fazer da sopa um hábito”, sem saltar esse passo nas refeições fora de casa. Além de nutritiva, pode até tornar-se pedagógica se preparada com massa com a forma das letras do alfabeto. “Quando vamos a um restaurante até podemos comer o bife com batatas fritas, mas a sopa deve vir antes.”
Dentro de portas outra nutricionista, Maria João Ibérico Nogueira, aconselha a cozinhar em família. “Permite às crianças cheirar, agarrar, descascar, lavar, adicionar a água na panela.”
Legumes no sumo
As compensações por deixar o prato limpo não têm lugar à mesa. Não obrigar nem usar a comida como um instrumento de obediência é regra para a qual não deve haver exceções. “Devemos respeitar o sinal de apetite e saciedade da criança para não criar um ambiente traumático e de stresse”, reforça Rita Teixeira.
Na ausência da sopa, há outros veículos de ingestão de legumes. Lillian Barros menciona um deles num capítulo dedicado a crianças no livro “Sumos e Águas Detox”, publicado em 2014. Somam-se mais duas obras, lançadas em 2015 e 2019, e o blogue Santa Melancia, onde partilha receitas saudáveis e artigos da sua autoria.
“Podemos tentar dar os legumes num sumo de frutas e vegetais. Pôr folhas de espinafre ou um bocadinho de pepino no sumo de laranja, por exemplo. É muito importante consumir estas vitaminas essenciais ao desenvolvimento e crescimento.”