TPM: todos os meses, um turbilhão de sintomas

Pode ir de alguns dias a duas semanas. E o cenário repete-se. Para as mulheres que sofrem de síndrome pré-menstrual, o tempo de descanso é pouco. Mas algumas estratégias e ajuda especializada podem melhorar, e muito, a qualidade de vida.

Foi aos 15 anos que percebeu que os sintomas que tinha antes do aparecimento da menstruação não eram coisa da sua cabeça. Uma reportagem na televisão dava finalmente um nome àquilo que sentia: tensão pré-menstrual (TPM). Vera Salazar, hoje com 20 anos, reconhece bem as atitudes e sensações que a menstruação traz consigo.

“Tenho fases em que só quero estar sozinha, outras que só quero ter atenção, momentos em que sinto falta de pessoas e outros em que estou extremamente alegre…”, conta à “Notícias Magazine”. Nas alturas mais complicadas, é difícil definir o que sente: “Estou triste porque estou alegre”. Confuso? Os sintomas também podem ser um caldeirão de contradições. Por se considerar uma pessoa muito sensível, os sintomas psicológicos são bem mais intensos do que os físicos, nomeadamente, algum inchaço abdominal e dores.

“Tenho fases em que só quero estar sozinha, outras que só quero ter atenção, momentos em que sinto falta de pessoas e outros em que estou extremamente alegre…”
Vera Salazar
20 anos

Apesar de ser vulgarmente conhecido como TPM e de ser fácil encontrar esta designação em várias fontes, o termo científico mais correto é “síndrome pré-menstrual” (SPM), reconhecido desde há muito, apesar de os critérios de diagnóstico só terem sido estabelecidos recentemente. Ao longo dos anos, a própria terminologia foi sofrendo alterações.

No século XVIII, era comum chamar-se a este problema de “alterações pré-menstruais”, e o termo TPM apareceu no século XIX. Depois de 1950, começou então a designar-se de SPM. “A maioria das mulheres em ciclo natural, e sem contraceção hormonal, tem um ligeiro desconforto na menstruação, mas o SPM inclui um conjunto de sintomas severos que tem impacto no quotidiano da mulher”, explica Teresa Bombas, especialista em ginecologia e obstetrícia no Serviço de Obstetrícia A do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).

“A maioria das mulheres em ciclo natural, e sem contraceção hormonal, tem um ligeiro desconforto na menstruação, mas o SPM inclui um conjunto de sintomas severos que tem impacto no quotidiano da mulher”
Teresa Bombas
Ginecologista

A forma mais severa de SPM é conhecida por síndrome pré-menstrual disfórico (SPMD) e já é reconhecida e classificada como uma doença no “Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 5th Edition (DSM-5)”. Existem vários estudos sobre SPM que vêm comprovar cientificamente esta doença e deitar por terra quem pensa que tudo não passa de algo que só existe na teoria, ou porque as mulheres são “complicadas” por natureza.

Apesar da origem do SPM e do SPMD não ser conhecida, existem fatores de risco associados e clinicamente comprovados, como o tabagismo e o excesso de peso. “O risco mantém-se elevado nas ex-fumadoras e os sintomas tendem a agravar-se com o número de cigarros por dia”, prossegue Teresa Bombas. Existe também uma relação entre o Índice de Massa Corporal e a incidência de SPM: “Por cada 1 kg/m2 de aumento, o risco de SPM aumenta cerca de 3%”.

Décadas de sintomas debilitantes

Por norma, a SPMD afeta mulheres em idade fértil, durante a vida reprodutiva, todos os meses, na fase menstrual, podendo ter impacto na qualidade de vida e nas atividades do dia-a-dia. “A grande maioria das mulheres [70 a 90%] tem apenas um desconforto pélvico ligeiro sem grande impacto no quotidiano. Um terço tem sintomas graves, com suspensão das suas rotinas, e destas, cerca de 3 a 8% tem formas muito graves da doença”, revela a especialista, também presidente da Sociedade Portuguesa de Contracepção (SPC).

As contas do tempo em sofrimento não serão difíceis de fazer: “Se considerarmos que a maioria das mulheres tem a sua primeira menstruação aos 12 anos, entra na menopausa aos 50, e que tem em média dois filhos, estamos a falar de cerca de 380 ciclos. Se os sintomas forem graves e durarem todo o período menstrual (em média, seis dias) falamos de muitos anos de sintomas debilitantes”, avança Teresa Bombas.

Vera Salazar não chegou a procurar ajuda médica mas até as amigas sabem quando a menstruação dela está para breve porque também elas partilham de alguns sintomas. Nestes dias de maior irritabilidade, opta por ficar no seu canto. “Sempre que me sinto pior, também tento fazer algo de que gosto mais, como ouvir música, ler, conversar com amigos e focar-me noutros assuntos.”

Sabe que, no dia seguinte, o panorama poderá ter melhorado e possivelmente tudo será mais relativo. “Às vezes sentimos coisas demasiado intensas mas, no outro dia, até pode já nem fazer sentido. O segredo é tirar um tempo para nós próprias. Vai passar… até ao próximo mês, se tudo correr bem”, sublinha.

A presidente da SPC considera fundamental a procura de ajuda. “É uma doença, pode ser grave, mas tem tratamento. As mulheres, ou quem partilha o seu quotidiano, devem reconhecer a calendarização mensal dos sintomas.” Por outro lado, é essencial que os médicos consigam distinguir entre SPM e SPMD, eliminando também outras doenças psiquiátricas, como a ansiedade e a depressão. “Nas formas graves de SPM, é fundamental uma boa coordenação entre o médico de família, o ginecologista e o psiquiatra para melhor orientação destas doentes.”

Como tratar?

Também existem boas notícias: a SPM desaparece durante a gravidez e o pós-parto. Teresa Bombas refere ainda a farmacologia útil para este problema. “Durante o uso de contraceção hormonal, a maioria das mulheres melhora”, sustenta a médica. Pode ainda recorrer-se a outro tipo de produto. “Com medicação, podemos bloquear a ovulação com a utilização de um contracetivo hormonal combinado [pílula, anel e selo] ou um progestativo isolado [oral, implante, injetável]. Devemos diminuir o intervalo livre de contraceção, ou seja, o número de dias de pausa. Existe uma formulação com drospirenona aprovada para este tratamento.”

Nas pacientes com SPMD, pode ser necessário medicar com psicotrópicos, passíveis de ajudar tanto nos sintomas físicos como nos emocionais, avaliando-se caso a caso consoante as queixas e a história clínica. Exemplos: “Inibidores da recaptação da serotonina e benzodiazepinas [ansiolíticos, tranquilizantes, calmantes]”.

Existem ainda outras sugestões que podem ajudar a melhorar os sintomas, como a prática de exercício físico diariamente, que aumenta a libertação de endorfinas (hormonas da felicidade), ou recorrer a técnicas de relaxamento e de controlo do stresse, como o ioga e a meditação. “Sugerimos ainda a modificação da dieta com aumento do aporte de cálcio, vitamina B6, e proteínas”, remata Teresa Bombas.