Texto de Alexandra Tavares-Teles
Competência técnica, low profile capaz de consensos e equilíbrio, inteligência emocional invulgar, dizem dele camaradas políticos, contrariando os que veem na ascensão à presidência da Metro do Porto, SA novo passo de uma carreira programada ao milímetro com a ajuda de amigos bem colocados.
“É tudo menos um boy”, garante Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia. O autarca vê com otimismo as tarefas que o seu ex-chefe de gabinete e diretor financeiro de campanha – “discreto, mas eficaz sem dar nas vistas, teimoso a cair para o casmurro” – tem agora pela frente: “A extensão das linhas de Gaia e do Porto”. Desde logo porque “tem um conhecimento profundo no contexto das empresas de transportes”, referência à experiência na Metro e na STCP (2016-2018).
Conhecem-se há mais de 20 anos, “das lides partidárias”. O gestor já “desenvolveu resistência a essa acusação de carreirista, mas, claro, fica incomodado”, confessa Eduardo Vítor Rodrigues.
Tiago Braga não esconde a amizade pessoal com o ministro do Ambiente. “Creio, porém, que não terei sido escolhido por isso. Tenho 44 anos e funções políticas há apenas cinco.” Durante uma década foi auditor. De resto, se alguma coisa considera ser “é auditor de sistemas de gestão”. “Aqui estou de passagem.”
Gosta de política, porém. Começou na Juventude Socialista, atraído pelo “ideário focado nas pessoas”. Outros gostos? “Espetáculos musicais – o Rei Leão ou Os Miseráveis comovem-me.” O Porto, cidade e clube, de que é “adepto de estádio e cachecol”. A cozinha. “Cozinhar leva-me a outra dimensão. Gostava muito de ser cozinheiro.” É conhecida entre os amigos a sua interpretação de pato com laranja. Joaquim Sá, o melhor deles, elogia também o arroz de lavagante. “O Tiago tem gosto pela cozinha mais sofisticada.” E por vinhos, sendo até “um especialista”.
Dos tempos de faculdade, Joaquim lembra “um tipo altruísta”, um jovem “com receio de desbravar caminho”. Por isso, preferiu estagiar na capital enquanto a maioria dos colegas escolheu o estrangeiro. “Com o tempo mudou. Hoje atira-se mais.” Nesses anos, gostava de futebol e de matrecos, e não falhava as farras académicas. Já era então “muito vaidoso”.
O presidente da Câmara de Gaia, que no aniversário lhe oferece “gravatas fininhas”, é por vezes advertido. “Olha que esses sapatos não combinam com o cinto”, diz-lhe Tiago.
Quantos pares de sapatos tem? “Bastantes mais do que devia”, assume o próprio. Detesta lilás quase tanto como o sabor do coco. Porém, assume um estilo “entre o convencional e o arrojado”. E recorda o prazer de acompanhar a mãe nas compras, quando miúdo. “Desde sempre que gosto de me apresentar convenientemente.” É contemplativo. “Não raras vezes, sento-me numa esplanada a olhar.” Tem uma ligação forte a Santiago de Compostela. “Fiz a primeira peregrinação sozinho, tal como deve ser.” Se pudesse, “regressava já amanhã”.
Filho de um bancário e de uma funcionária pública, com um irmão mais novo, cresceu em Valadares e Mafamude. Apaixonou-se pelas questões do ambiente no 9.º ano. Escolheu Engenharia Ambiental. “Se há cinco anos me dissessem que hoje seria presidente da Metro do Porto, ria. Não vale a pena fazer grandes cenários.” Joaquim Sá vê no futuro do amigo “um excelente ministro do Ambiente”. Ou um CEO numa multinacional. Tiago Braga responde: “Lido muito bem com a sombra”.