Stéphanie Frappart: uma árbitra igual aos outros

Foto: Emmanuel Foudrot/Reuters

Texto de Alexandra Tavares-Teles

Conta-se em meia dúzia de linhas o que se sabe da história de vida de Stéphanie Frappart: francesa do Val-d’Oise. Com sete anos, pratica futebol no recreio da escola primária. Com dez, inscreve-se num clube feminino da modalidade.

Com 13, já muito interessada pelas regras do jogo, frequenta pela primeira vez cursos distritais de arbitragem, passando a dirigir, depressa reconhecido o jeito para o ofício, partidas de infantis e de iniciados. Com 18, na Faculdade de Desporto, consciente das limitações como jogadora, opta definitivamente pelo apito, dando início a uma carreira de sucesso.

Se por sucesso se entender derrubar preconceito e tradição, então pode dizer-se que Frappart fica na história do futebol. Do futebol francês, quando, em abril deste ano, dirigiu um jogo da Liga, entre o Amiens e o Estrasburgo, passando a integrar o quadro permanente de árbitros da prova, feito apenas comparável ao da alemã Bibiana Steinhaus, pioneira na luta pela igualdade entre homens e mulheres na poderosa Bundesliga.

Depois, do futebol europeu, escolhida que está para apitar a Supertaça Europeia, entre Liverpool e Chelsea, que se disputará dia 14, quarta-feira, em Istambul, na Turquia. Não sendo inédita a escolha de uma mulher para um jogo masculino da UEFA – a suíça Nicole Petignat apitou três jogos da Taça da UEFA entre 2004 e 2009 -, a nomeação de Frappart ficará registada como a primeira vez que uma mulher dirigirá uma final do organismo que representa as federações nacionais da Europa, fundado em 1954. E que a seu lado estarão mais duas mulheres, as assistentes Manuela Nicolosi, francesa, e Michelle O’Neill, da Irlanda (a quarto árbitro, o turco Cüneyt Çakir).

“Inovar e trilhar novos rumos”, promete a UEFA com a nomeação. “Espero que a habilidade e a devoção que Stéphanie demonstrou ao longo da carreira para alcançar este nível resulte em inspiração para milhões de meninas e mulheres em toda a Europa e prove que não deve haver barreiras aos sonhos”, acrescenta o esloveno Aleksander Ceferin, presidente da organização.

Árbitra reconhecida no futebol feminino, o percurso da francesa é extenso e competente. Esteve no Campeonato do Mundo do Canadá e nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Dirigiu finais de Mundiais e semifinais em Europeus. É, em França, das poucas árbitras que conseguem viver da atividade.

Aos 35 anos, com 1,64 metros e 54 quilos, abre uma porta de igualdade. A 14 de agosto, estará sob holofotes muito exigentes. Pede-se-lhe liderança, bom senso, autoridade com fasquia muito elevada. Aguardam-se comentários ao desempenho. Sobre cotas e meritocracia. “Apita melhor do que muitos homens”, dirão alguns, provavelmente sem se aperceberem que estão apenas a perpetuar o preconceito. Frappart quer ser “apenas” uma árbitra igual aos outros.