Só anda às aranhas quem quer: a história do mapa

Esta é a versão impressa mais antiga do primeiro mapa de Portugal conhecido, um notável tesouro cartográfico, reproduzido pelo editor italiano Michele Tramezzino, um exemplar da Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa.

Texto de Filomena Abreu

Assim que D. Sebastião foi aclamado Rei de Portugal e Algarves, em 1557, uma embaixada foi enviada a Roma, para tratar de assuntos importantes de Estado. Lourenço Pires de Távora, o embaixador escolhido para chefiar a missão, chegou à Cidade Eterna dois anos depois.

Um dos primeiros encontros que teve foi com Aquiles Estaço, um famoso humanista português e notável latinista, radicado em Roma, que redigiu a oração de obediência de D. Sebastião ao Papa e a leu perante Pio IV. Guido Sforza, cardeal protetor do reino português, terá então recebido de Estaço um presente: um mapa de Portugal, desenhado por Fernando Álvares Seco, matemático e cartógrafo de quem pouco se sabe.

Nessa carta, Portugal aparece à cabeça da Europa. Na verdade, não é bem Portugal, é a Lusitânia, província da Hispânia romana. Com o Norte à direita e o Sul a perder-se de vista, à esquerda. O país foi retratado numa posição insólita, deitado.

Há uma vasta e detalhada rede hidrográfica (com a maioria dos rios desenhados como se nascessem dentro do território) e uma densa descrição das povoações – muito concentradas junto ao Atlântico por oposição à zona mediterrânica –, que incluem vilas, aldeias, cidades e sedes episcopais.

À volta do uno e coeso território estão, sob o escudo maior de castelos e quinas, numa espécie de zona árida, as armas da Galiza, do Reino de Leão e do Reino da Andaluzia. A descrição corresponde ao mapa que vê na imagem, o mais antigo que se conhece de Portugal.

Do manuscrito original não se conhece o paradeiro, mas, a partir dele, Sebastiano di Re e Michele Tramezzino gravaram uma versão reduzida, impressa em Veneza e difundida em Roma, com autorização do Papa e do Senado de Veneza, datada de 20 de maio de 1561.

Quatro anos depois, o cartógrafo Gerard de Jode, com simplificações e lapsos em relação à imagem de 1561, publicou em Antuérpia (agora Bélgica) outra versão de maior escala, em quatro folhas, que incluiu nas edições do seu atlas Speculum Orbis Terrarum, de 1578 e 1593.

Conhecem-se, até ao momento, 18 exemplares do mapa de 1561 e apenas dois deles se encontram em Portugal. Um, na coleção do professor Nabais Conde, na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra. Outro, adquirido num leilão, em 2011 pela Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa.

Antes da escrita, os homens já faziam mapas. Eram esculpidos ou pintados, em madeira, em pedra ou em pele de animal. Para que fossem conhecidas as áreas dominadas, definir estratégias militares e cogitar possíveis expansões das fronteiras, demarcar territórios de caça, definir rotas comerciais e serem usados como forma de orientação, uma antiga necessidade do ser humano.

Em todo o Mundo não faltam mapas icónicos e antigos. Um deles cabe na palma de uma mão. Chama-se “Ga Sur” (2400 a 2200 a.C), foi feito em barro pelos babilónicos e foi encontrado na Mesopotâmia. Representa o rio Eufrates e os acidentes geográficos próximos.

Hoje, apesar de quase todos os dispositivos digitais terem GPS, há quem não dispense os mapas em papel. É que esses não precisam de sinal satélite e nunca ficam sem bateria.