Texto de Sara Dias Oliveira
Nunca irá esquecer aquele dia em que conseguiu pôr-se de pé numa prancha de surf pela primeira vez. Tinha 11 anos e já muito mar no corpo, muitas carreirinhas de bodyboard. Momento arrepiante, misto de sensações. O ar a bater-lhe na cara, o deslumbre em estado puro, aquele deslize inesquecível. Toda a liberdade. “O contacto com a natureza é algo único.” Continua a entrar no mar e a fazer-se às ondas. “O surf moldou a minha vida, transformou-me no que sou hoje”, confessa.
O sonho de criar um cluster do surf em Portugal ocupa-lhe os dias. A modalidade tem muito para dar, tanto para explorar. “O surf tem potencial e é possível criar um cluster agregador. Precisamos de dinamizar um conjunto de empresas, de marcas, de fabricantes, receber as sedes internacionais das grandes marcas.” Ter toda a cadeia no nosso país. A seu lado tem o irmão Patrick, companheiro de todas as aventuras. Juntos querem colocar o setor na linha da frente.
Por estes dias, Salvador Stilwell, 30 anos, de Lisboa, anda concentrado na organização da segunda edição do Surf Out Portugal, que terá lugar a 21 e 22 de setembro na Feira de Artesanato do Estoril. Uma montra do surf, o único evento da indústria que junta os principais intervenientes do setor para promover Portugal como país de referência no panorama mundial. “Vamos reunir o mundo do surf num só sítio, numa só data, num só espaço, para celebrarmos o crescimento do surf em Portugal nos últimos anos”, adianta.
O ano zero foi 2018, plantou-se a semente, correu bem, este ano aponta-se para que “a iniciativa se torne uma referência de um encontro da indústria” em termos internacionais. Com novidades da modalidade, gente de vários continentes, exposição de produtos e serviços, marcas e as histórias por detrás delas, conversas sobre a atualidade e o futuro do surf, workshops, debates. Pranchas, fatos, adereços. Tudo num ambiente descontraído.
Salvador Stilwell acredita que assim se criam as bases para que o setor cresça e pense mais além. “O nosso país tem excelentes condições para a prática de surf, temos atletas de renome internacional, temos de repensar este setor e levar a bandeira nacional para fora do país.” O Surf Out Portugal surge da simples constatação da necessidade de criar uma plataforma de diálogo entre os principais atores do surf, intervenientes importantes, praticantes e simpatizantes da modalidade. Como uma experiência imersiva fora de água que olha para o futuro.
A vontade de ter um projeto ligado ao surf tem algum tempo. Salvador estudou Gestão de Marketing, trabalhou numa casa que exporta vinhos e andou em feiras por todo o Mundo, onde foi percebendo caminhos e atalhos do negócio, o circuito, e a importância de falar cara a cara com clientes, empresários, colegas, consumidores.
Essa experiência deu-lhe traquejo para organizar uma espécie de congresso em que o surf é rei e senhor. Agora, dedica-se inteiramente a este projeto que tem pernas para andar e muito mar pela frente. As ideias estão arrumadas dentro da sua cabeça. O gestor surfista quer pôr o país a olhar para o surf e a gostar do que vê. Quer colocar os olhos do Mundo nas ondas portuguesas e na riqueza da costa nesta ponta da Europa. E o cluster começa a ganhar raízes.