Sabores de Natal que reinam à mesa dos autarcas

Eduardo Vítor Rodrigues lembra que, em criança, o ingrediente mestre dos bolinhos de bolina crescia no quintal dos avós. (Foto: Pedro Granadeiro/Global Imagens)

Há cheiros que anunciam o Natal e iguarias que, ano após ano, têm lugar cativo no banquete da consoada. Em Vila Nova de Gaia, não faltam os bolinhos de bolina para adoçar a quadra de Eduardo Vítor Rodrigues. Em Estarreja, há torta de abóbora à mesa de Diamantino Sabina. Mais a norte, em Melgaço, na casa de Manoel Batista, come-se arroz-doce. São três autarcas que lideram os destinos dos municípios onde vivem. No baú da memória, conta-se um sem fim de sabores que avivam recordações antigas da quadra vivida em família.

Em pequeno, o ingrediente mestre dos bolinhos de bolina (abóbora-menina) crescia no quintal dos avós de Eduardo Vítor Rodrigues. Na mesma terra, cultivavam-se as couves. Foi com a mãe que aprendeu a confecionar a iguaria. O processo é moroso. Há que cozer a bolina e deixar o preparado escorrer dentro de um pano. No dia seguinte, antes de moldar e fritar a massa, é necessário adicionar farinha, ovos, leite e açúcar. Para finalizar, basta polvilhar com canela e açúcar. “É um doce magnífico e saudável”, frisa o presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia. “Acabava também por ser um bolinho de família porque era feito com produto da casa.”

Eduardo Vítor Rodrigues lembra que, em criança, o ingrediente mestre dos bolinhos de bolina crescia no quintal dos avós. (Foto: Pedro Granadeiro/Global Imagens)

A véspera de Natal era preenchida. De manhã, Eduardo Vítor Rodrigues ia com o pai ao cemitério, tradição que tenta manter acesa. A tarde era passada na cozinha, com tempo para “tropelias”. Nesse dia, já a massa dos bolinhos de bolina estava pronta a passar pela frigideira. “A festa da família começava bem mais cedo do que a noite. Eu era o provador. Metia os dedos em tudo quanto era tacinha. Andava mais a estorvar do que outra coisa.”

Neste ano, serão 18 pessoas à volta da mesa da sala para degustar o bacalhau com todos e os doces. À meia-noite, a família assiste à missa do galo, em Mafamude. Na volta, há peru recheado para petiscar e a companhia do padre Jorge Duarte.

Dias de sol e de frio

A abóbora-menina do bolinho de bolina também serve de base à tarte de abóbora do autarca de Estarreja. Diamantino Sabina nasceu nos Estados Unidos e por lá viveu até aos dez anos. No regresso a Portugal, os pais trouxeram na mala uma forma. Na base, estavam os passos para confecionar uma “Pumpkin Pie”. Teria uns 15 ou 16 anos quando levou a primeira ao forno. “Fui buscar a base para a tarte a uma outra receita. Para o interior utilizava a receita escrita no prato da minha mãe”, explica Diamantino Sabina, sem esconder o gosto pelos tachos.

Diamantino Sabina era adolescente quando levou ao forno a primeira tarte de abóbora. Desde então, perdeu a conta às que já fez. (Foto: Maria João Gala/Global Imagens)

Entre a consoada passada em casa dos pais e o dia de Natal, celebrado com os sogros em Paris, cumprem-se tradições de três países. Há o bacalhau português, o peru dos Estados Unidos e o cabrito ou o rosbife em França, a nação onde vivem os sogros. “Um Natal sem frio e sem sol não é a mesma coisa. Quando regressámos, o meu pai voltou aos Estados Unidos para nos dar uma vida melhor. Passava lá cerca de nove meses. Voltava em dezembro. Era um mês especial. Normalmente, ele chegava em dias de sol e frio. Adoro os dias ensolarados e frios de inverno.”

Rumo a norte, no meio das sopas de vinho, das rabanadas e do bolo-rei, em casa do edil de Melgaço, há sempre lugar para o arroz-doce, um prato “muito ligado à família” que a mãe de Manoel Batista “fazia no inverno e na época de Natal”. Natural de Caminha, este ano a festa celebra-se em Trás-os-Montes, a terra da esposa. No menu da ceia, há bacalhau e polvo. No dia seguinte, reina a roupa velha e o polvo panado. “Tudo é feito em casa. Há partilha e todos colaboram para preparar a refeição”, diz, garantindo que o filho João, de cinco anos, mete as mãos na massa. “Ele gosta de agarrar na colher de pau e de mexer nas coisas.”

Manoel Batista preparou arroz-doce, um prato “muito ligado à família” que a mãe do autarca “fazia no inverno e na época de Natal” (Foto: Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

Recordações de menino

No que toca a presentes, há três que o presidente de Vila Nova de Gaia não esquece: o relógio recebido aos 11 anos, o Spectrum, um computador de jogos a preto e branco para ligar à televisão, e a carta de condução, que pagou a meias com os pais. “Ainda tenho o relógio.”

Em Estarreja, Diamantino Sabina lembra “um jogo eletrónico” e o urso de peluche que, 43 anos depois, ainda guarda. “Era uma altura muito feliz.” Já Manoel Batista assume que as prendas “não têm um peso grande” nas memórias de infância. Ao invés, guarda a construção do presépio e a preparação da grande noite. “Íamos buscar as couves para preparar o jantar. E depois havia o conforto de estar à lareira.”

Arroz Doce

Foto: Rui Manuel Fonseca/Global Imagens

Receita do autarca Manoel Batista

Ingredientes:
1 chávena de chá de arroz
1l de leite
6 gemas de ovos
6 colheres da sopa de açúcar
1 pau de canela
1 casca de limão (parte amarela) pitada de sal

Preparação:
Coloca-se um pouco de água com uma pitada de sal, a casca de limão e o pau de canela (1,5 cm acima do fundo do recipiente). Após levantar fervura, acrescentamos o arroz e deixamos abrir um pouco, mexendo sempre. Entretanto deixaremos de ter água e acrescentamos o leite pouco a pouco e em lume brando (mexendo sempre). A inserção do leite demorará +/- 15 minutos. Durante este período acrescentamos também o açúcar (6 colheres ou a gosto). Após o arroz estar cozido, retiramos do lume a acrescentamos as gemas batidas (para facilitar podemos juntar meia chávena de leite às gemas batidas) envolvendo bem. Decoramos com canela.

Bolinhos de Bolina

Foto: Pedro Granadeiro/Global Imagens

Receita da avó da esposa do autarca Eduardo Vítor Rodrigues

Ingredientes:
1kg de abóbora menina
60g de farinha
3 ovos
4 colheres de açúcar
2 colheres de leite
1 colher de fermento em pó
1 pitada de sal
raspas de dois limões
açúcar e canela
óleo para fritar

Preparação:
1 – Corte a abóbora em pedaços e coza-os em água temperada com um pouco de sal. Escorra, passe por um passador de rede, coloque o puré obtido dentro de um pano e esprema bem para retirar toda a água

2 – Misture muito bem o puré com a farinha, o fermento, as gemas, o açúcar, a raspa dos limões e o leite. Adicione as claras batidas em castelo bem firme e envolva

3 – Frite colheradas da massa em óleo bem quente, retire, escorra e polvilhe com açúcar e canela.

Tarte de abóbora/Pumpkin Pie

Foto: Maria João Gala/Global Imagens

Receita do autarca Diamantino Sabina

Ingredientes para a massa:
1-1 / 2 xícaras de farinha de trigo
1 colher de sopa de açúcar
1/2 colher de chá de sal
1/8 colher de chá de fermento em pó
6 colheres de sopa de manteiga sem sal fria
3 colheres de sopa de gordura vegetal a frio
4 colheres de sopa de água gelada

Ingredientes para o recheio:
500 gr. abóbora
1 ovo grande
3 gemas grandes
1/2 xícara de açúcar granulado
1/2 xícara de açúcar mascavado claro
2 colheres de sopa de farinha de trigo
1/2 colher de chá de sal
1 colher de chá de canela em pó
1 colher de chá de gengibre em pó
1/2 colher de chá de noz-moscada moída
1/8 colher de chá de cravo em pó
1/8 colher de chá de pimenta preta
1 lata de leite condensado

Preparação:
Faça a massa quebrada: Misture a farinha, o açúcar, o sal e o fermento em pó num robot de cozinha. Pulse algumas vezes para misturar. Adicione os pedaços de manteiga, a gordura e o resultado da mistura, até obter migalhas grosseiras com muitos pedaços de manteiga do tamanho de ervilhas e gordura dentro. Adicione metade da água e pulse algumas vezes para incorporar. Adicione a água restante e pulse até a mistura ficar humedecida e uniforme.

Despeje a massa quebradiça numa superfície de trabalho e junte-a numa bola. “Amasse” a massa num disco de 5 polegadas – não se preocupe se as beiras quebrarem – e envolva-a em plástico. Leve ao frigorífico por pelo menos 45 minutos para descansar. Retire a massa do frigorífico. Polvilhe levemente a superfície de trabalho com farinha e coloque a massa por cima; polvilhe um pouco de farinha sobre a massa. Use as mãos para trabalhar rapidamente a massa num disco macio – não a sobrecarregue ou a aqueça demais, apenas alise as bordas o melhor que puder, para que seja mais fácil rolar.

Enrole a massa, adicionando mais farinha, conforme necessário, por baixo e por cima da massa, para que não pegue, num círculo de 13 polegadas. Coloque cuidadosamente a massa sobre o rolo e transfira-a para uma forma de torta de 9 polegadas (deve ter pelo menos 1-1/2 polegadas de profundidade). Encaixe cuidadosamente a massa na panela, facilitando-a para dentro, em vez de esticá-la para fora. Não se preocupe se rasgar, basta remendar imediatamente. Apare as beiras a 1/2 polegada além da bordadura da assadeira. Vire as beiras para baixo para criar uma borda na crosta (você pode usar as sobras para corrigir nas áreas mais finas); depois pressione a beira contra a borda da panela, formando uma borda uniforme à medida que avança. Usando os dedos, prenda a borda. Coloque a crosta no freezer por pelo menos 15 minutos enquanto aquece o forno.

Pré-aqueça o forno a 190° C. Retire a massa da torta e coloque-a em uma assadeira (facilita a entrada e saída do forno). Cubra a crosta com um pedaço de papel vegetal e encha-o até a metade com feijões secos. Ponha no forno por 20 minutos. Retire a massa do forno; remova o papel vegetal e os feijões e enrole as beiras com algumas tiras de papel de alumínio dobradas ao meio longitudinalmente. Isso protegerá as beiras de ficarem muito escuras. Ponha no forno por mais 20 minutos, até que a massa esteja seca e dourada. Não se preocupe se o fundo crescer; basta pressioná-lo suavemente com uma espátula plana, tomando cuidado para não perfurá-lo. Retire o papel alumínio, mas não o ponha fora; pode precisar dele novamente. Reduza a temperatura do forno para 190º C.

Faça o recheio: Misture todos os ingredientes numa tigela grande. Despeje o recheio na crosta pré-assada. Ponha a torta no forno por 50 a 60 minutos, até que o recheio esteja pronto. Ela deve aparentar estar seca nas beiras e o centro deve balançar levemente se agitar. Fique de olho na torta enquanto no forno; se alguma vez parecer que a crosta está a escurecer muito rapidamente, tape as beiras novamente com as tiras de papel de alumínio. Deixe a torta arrefecer até ficar à temperatura ambiente. Fatie ou leve ao frigorifico até estar pronta a servir.