Rui Ivo: o regulador aprumado

Foto: Pedro Rocha/Global Imagens

Texto de Alexandra Tavares-Teles

No final dos anos 1980, um importante congresso internacional de farmacêuticos levou a Lisboa professores das universidades portuguesas, figuras internacionais destacadas, autores de obras obrigatórias na academia e recém-licenciados de todo o Mundo. No jantar de encerramento, no Palácio de Queluz, um jovem, na qualidade de anfitrião, ganhou destaque.

Impecavelmente penteado, perfeito no fato e gravata, com um inglês limpo e imenso à-vontade, Rui Ivo discursou durante mais de meia hora perante uma plateia exigente, espantada perante a rara desenvoltura. O episódio, descrito com minúcia no blogue “Impressões de um Boticário de Província”, é recordado, de novo, por quem também assistiu. “Foi exatamente assim. Muito penteado, com uma pronúncia impecável – tem um jeito enorme para línguas – e um discurso muito sabedor”, conta Ana Paula Martins.

A bastonária da Ordem dos Farmacêuticos e Rui Ivo conhecem-se dos bancos da faculdade. São amigos. “Sempre dissemos que era diferente, por ser mais responsável, mais focado.” Por andar sempre muito composto. “Quando jovens, não me lembro de o ver de t-shirt. Hoje, ao fim de semana, já é capaz de vestir um blusão. Na altura, nunca.”

Na altura, o atual presidente do Infarmed liderava a Federação Internacional de Estudantes de Farmácia, depois de ter sido presidente da associação de alunos da respetiva faculdade (Universidade de Lisboa). Tanto aprumo e compostura, porém, “não faziam dele um chatinho”. Diz a amiga: “Podia ser, mas não. O Ivo gostava até muito de bailaricos e de festas. Era muito divertido e tinha amigos em todo o Mundo”.

Muito reservado, “tem o seu quê de britânico”, dizem os próximos. Confere: Rui Ivo evitou prestar declarações e não foi fácil chegar a dados biográficos elementares como o lugar de nascimento.

Mostrou desde jovem uma personalidade superior ao perfil médio. “É talvez das duas ou três pessoas com mais bagagem internacional na área da regulamentação do medicamento”, diz Ana Paula Martins. Conhecimento alicerçado numa carreira no estrangeiro – foi Membro do Conselho de Administração da EMA (2002 -2005) e esteve na Direção-Geral de Empresas e Indústria, Comissão Europeia (2006 -2008). E em Portugal, como diretor executivo da Apifarma (Associação Portuguesa de Indústria Farmacêutica) e na Administração do Infarmed.

O Infarmed não é casa nova para Rui Ivo. A estreia na presidência do regulador deu-se em 2002. Saiu em 2005, por decisão de António Correia de Campos. “Já não me lembro bem”, diz o ex-ministro da Saúde. “Penso que ele colocou o lugar à disposição e eu aceitei.” Porquê? “Bem, quando as pessoas colocam o lugar à disposição é porque não querem continuar.”

Ressalva, porém: “Parece-me um profissional que conhece bem o setor. Nunca nos zangámos”. Conhecem-se há mais de 20 anos. “Era ele um jovem estudante de Farmácia e eu diretor de Programas da Fundação Luso-Americana. Um dia, apareceu-me a pedir uma bolsa para ir ao estrangeiro”, conta. “E eu dei-lha.”

É capaz de ruturas, mas procura pontes. Não se espere que agora “vire tudo de pernas para o ar”. Junta à discrição “lealdade e prudência. Experiência e bom senso”. Rui Ivo iniciou a carreira como farmacêutico hospitalar no Egas Moniz, em Lisboa. “Desde cedo percebemos que seria convidado para cargos de responsabilidade”, sublinha Ana Paula Martins.

Cargo: Presidente do Infarmed
Nascimento: 04/12/1961 (58 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Castelo Branco)