Respira-se bem em Portugal. O clima ajuda, o problema é o fumo

Texto de Sara Dias Oliveira

Os pulmões servem para respirar, ou seja, para tratar das trocas gasosas essenciais à vida da humanidade. São um órgão forte, e simples também. “O seu tecido é simples e a sua função singela, absorver oxigénio e excretar dióxido de carbono. Apesar de simples, são muito fortes e não carecem de tratamento especial”, refere à NM José Alves, presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão. Precisam de respeito, tal como todas as partes do organismo.

A sua forma de funcionar não é complexa de entender. “O sangue chega aos pulmões rico em CO2 vindo das artérias pulmonares, relaciona-se intimamente com o ar atmosférico, onde perde o CO2 e ganha O2”. José Alves abre aqui um parêntese relevante. “É importante saber que os pulmões são uma janela aberta para o interior do organismo, mantê-los intactos é manter a sua saúde e a saúde do organismo.” É um órgão simples, pois bem, forte, claro está, mas que exige atenção. Nada de excessos tóxicos e gases pouco recomendáveis. O fumo do tabaco surge à cabeça e não há volta a dar. Nem a poluição que anda no ar é um inimigo tão letal.

Em Portugal, morrem cerca de 48 pessoas por dia, duas por hora, devido a doenças respiratórias.

“Nada se compara ao tabaco, enquanto agressor dos pulmões. Há níveis atmosféricos de poluição muito graves e perigosos, raros, e mesmo assim longe das agressões do tabaco”, garante o presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão. A agressão é contínua nos fumadores e a lista é negra. Muito negra. “O fumo do tabaco provoca várias doenças além das dos pulmões. Aumenta o risco relativo das doenças cardio e cérebro vasculares, primeira e segunda causas de morte mundial; provoca Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica, terceira causa de morte; aumenta o risco de pneumonia, quinta causa de morte; e é determinante no cancro da boca, da laringe, do esófago, do estômago, da bexiga, das vias urinárias, do sangue; e claro, aumenta o risco relativo de cancro do pulmão 25 vezes”, diz o especialista. “Enfim, o tabaco é para esquecer. Quem pode, porque quem não pode, não o esquecendo, tem de o evitar”, aconselha.

Os pulmões estão em contacto com o exterior e, muitas vezes, são agredidos por vírus ou bactérias. A vacinação e os cuidados de higiene são fundamentais. O que fazer? “Tomar a vacina para a gripe, a vacina para a pneumonia, evitar os alergénios conhecidos (pólenes, pelos de gato e cão), não fumar, não cozinhar em fornos de lenha com pouca tiragem, evitar lareiras sem tiragem”, recomenda. Pouco mais há a fazer porque os pulmões não melhoram com treino. “São uma característica genética que nos acompanha imutável durante a vida.”

O cancro do pulmão é muito mais frequente nos fumadores, cerca de 25 a 27 vezes mais do que em quem não fuma.

“Temos que perceber que o ar respirado é na maior parte das vezes rico em partículas, sendo que muitas delas entram nos pulmões e ficam para sempre, como a sílica, os amiantos. Outras partículas, como os pólenes, provocam reações alérgicas, outras ainda, entram e saem, comportando-se como partículas gasosas”, sublinha José Alves.

Quais os métodos e diagnósticos para sabermos se os pulmões estão de boa saúde? O exame mais específico é a espirometria. É simples, barato, de resultado imediato. “Dá-nos uma ideia muito aproximada da qualidade e do tamanho dos nossos pulmões”. Em termos imagiológicos é possível fazer uma telerradiografia que ainda é muito utilizada no diagnóstico das doenças pulmonares. Todavia, o aparecimento da TAC (Tomografia Axial Computorizada) relevou a radiografia convencional para segundo plano.

“Adicionalmente, há uma série de exames mais invasivos necessários nos diagnósticos, como a broncoscopia e a pleuroscopia. São exames que usam as novas técnicas existentes para observar diretamente os pulmões. Mas podemos dizer, sem correr o risco de simplificar, que uma espirometria normal e uma telerradiografia normal significam pulmões normais”, explica.

As doenças do sistema respiratório são a primeira causa de internamento e a terceira causa de morte no nosso país, a seguir ao cancro e às doenças cardiovasculares.

Apesar de tudo, em Portugal, respira-se muito bem, assegura José Alves. “O clima é ameno e ajuda. Por isso, os números da saúde respiratória estão entre os melhores. Somos dos países com menos fumadores e onde há menos fumo passivo. As taxas de morbilidade e mortalidade estão entre as melhores da Europa a 27. Há sempre espaço para melhorar e os nossos profissionais de saúde, bem como os serviços do Serviço Nacional de Saúde, estão atentos.”

Vários temas serão abordados no IX Congresso da Fundação Portuguesa do Pulmão que tem lugar nesta quinta e sexta-feira, 24 e 25 de janeiro, no Auditório dos Serviços Sociais da Câmara Municipal de Lisboa. O cancro do pulmão, a importância do diagnóstico precoce, e a necessidade de alterar a epidemiologia da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica, estarão no centro das atenções. Estas duas doenças estão na lista das doenças com maior mortalidade em Portugal.

No painel sobre o cancro do pulmão será destacada a nova esperança que existe para quem é diagnosticado numa fase inicial, graças à imunoterapia e a outras terapêuticas que permitem que o diagnóstico desta doença já não seja uma sentença de morte – podendo até tornar-se numa doença crónica.

No congresso, serão apresentados e discutidos dados sobre o momento atual da saúde respiratória e partilhadas ideias para futuro melhor nesta área. Adalberto Campos Fernandes, ex-ministro da Saúde, estará presente na conferência de encerramento deste evento para falar sobre o futuro da saúde em Portugal. “Saúde 2030” é o nome da sua intervenção marcada para as 17.30 horas desta sexta-feira, dia 25.