Renato Garrido: o hóquei em todos os poros

Foto: Leonel de Castro/Global Imagens

Texto de Ana Tulha

Renato Garrido é um portuense de riso fácil. E se há três anos alguém lhe dissesse que iria conduzir a principal seleção nacional de hóquei em patins ao título mundial provavelmente era isso que ele ia fazer: soltar uma gargalhada. É que, nessa altura, nunca tinha sido sequer treinador principal. A primeira experiência aconteceria nesse verão de 2016, na Juventude de Viana. Em fevereiro deste ano, chegou ao comando da seleção nacional. Desde domingo, é campeão planetário.

“Sinto-me dentro de um sonho. Acho que ainda não despertei”, confessa-se, ele que também é professor no Instituto Superior de Ciências Educativas do Douro. Mas os sonhos dão trabalho que se farta. No caso de Renato, o sucesso chega a meias com uma devoção total. “Vive, transpira e respira hóquei em patins. Estuda a fundo os jogos das outras equipas e os jogadores dele”, resume a irmã Sara Garrido.

Foi para ela – e para a outra irmã – que Renato apontou assim que teve a medalha na mão. Até porque a família tem tudo que ver com isto: o avô jogou hóquei em campo até aos 52 anos e os pais sempre foram apaixonados pela modalidade. Entretanto, Renato passou o vício à irmã Ana (Sara ficou-se pela patinagem) e a um dos filhos, Martim, guarda-redes nas camadas jovens do F. C. Porto.

Antes, bem antes, Renato também foi jogador. Com seis anos, já patinava no Académico Futebol Clube, onde haveria de jogar mais de 20 anos. “Bom, jogador… eu era mais um praticante de hóquei”, brinca. Rui Jorge, um dos primeiros treinadores, também fala num “jogador mediano”, mas “hiperativo, sempre ansioso por fazer as coisas”.

Anos mais tarde, reencontraram-se no F. C. Porto. Nessa altura, já Renato era licenciado em Educação Física (entretanto, também mestre em Treino Desportivo) e treinador da formação dos dragões. “Foi um dos melhores que encontrei nas camadas jovens”, garante Rui Jorge que, por essa altura, era coordenador do departamento juvenil. A ascensão à equipa principal chegaria anos mais tarde, como adjunto de Franklin Pais. “É muito competitivo. Lida mal com a derrota. E já na altura era muito conhecedor”, elogia o antigo chefe de equipa.

A competitividade transparece nos treinos. “É muito interventivo. Nunca permite que haja baixa intensidade”, aponta Edo Bosch, adjunto de Renato Garrido na seleção e na Oliveirense, segunda classificada no último campeonato nacional. Mas também “um bocado teimoso”. “Chocamos muitas vezes, de forma saudável. Mas como ganhou, tenho que lhe dar razão”, ironiza.

Henrique Magalhães, campeão do Mundo em Espanha e atleta de Renato já no tempo das camadas jovens dos azuis e brancos (aliás, o selecionador já tinha treinado, nos dragões, oito dos dez atletas que agora fizeram história com ele), concorda que o mister é “muito casmurro”. Duro, também. “Mas tem o outro lado. Percebe e reconhece o esforço.”

Essa, assegura quem priva com ele, foi parte da fórmula do sucesso. “Antes da final, estava extremamente calmo. Acho que acreditou tanto naquele projeto que estava confiante”, conta Ana Garrido, a outra irmã. Segredos? O espírito de equipa e a entrega dos jogadores, sempre.

Mas também longas conversas com o plantel, em que se dissecavam as fragilidades “como um todo”. Isso e as alusões recorrentes ao feito da seleção portuguesa de futebol, campeã europeia à custa de uma alma imensa. Sim, naquele verão de 2016, em que Renato Garrido se estreou como treinador principal. Quase dá para acreditar que era o destino a anunciar-se.

Cargo: Selecionador nacional de hóquei em patins
Nascimento: 12/07/1973 (46 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Porto)