Ren Zhengfei: o multimilionário que anda de táxi

Foto: Fabrice Coffrini/AFP/Getty Images

Texto de Alexandra Tavares-Teles

Filho de modestos professores, passou a infância e a adolescência numa cidade montanhosa, perdida na província de Guizhou, na China. Em 1963, com 19 anos, ingressou no renomado Instituto de Engenharia Civil e Arquitetura de Chongquing, facto que tem levantado suspeitas sobre as origens humildes que constam dos registos oficiais do bilionário. “Tínhamos sal para cozinhar, por isso alguns consideram que éramos ricos”, justificou, em rara entrevista à BBC, em 2015.

Na verdade, Ren sempre evitou falar do seu percurso de vida. Sabe-se que durante quase uma década, “por mera casualidade”, ocupou diversos cargos técnicos, como engenheiro do exército chinês. Que trabalhou para a Shenzhen South Sea Oil. E que, em 1987, deu o passo decisivo: a criação da Huawei Technologies Co. Ltd , investindo uns módicos 21 mil yuans (cerca de cinco mil dólares à época).

Registada em Shenzhen, vila de pescadores que acabara de ser designada zona económica especial na China, a outsider começou por vender equipamentos de telefones (PBX) fabricados em Hong Kong. A batalha para ganhar mercado atravessou dias sombrios. “Lutei muito, passava 16 horas por dia no escritório.”

Ultrapassou a depressão e a ansiedade, motivou os funcionários, investiu em pesquisa e desenvolvimento. A Huawei foi criando tecnologia própria, acabando por tornar-se no maior fabricante mundial de equipamentos de telecomunicações, e o segundo maior produtor de smartphones. Com 180 mil funcionários e negócios em mais de 170 países, permitiu ao fundador um património líquido avaliado em 1,52 mil milhões de euros (dados de fevereiro deste ano).

Quando Donald Trump colocou a Huawei na lista negra de suspeitos de espionagem, interditando a exportação de produtos tecnológicos americanos para a China, Ren não tremeu. Pelo contrário: “Os Estados Unidos subestimaram a nossa força”.

A seu lado, tem dois filhos. Meng Wanzhou, a mais velha, passou décadas na Huawei, subindo na hierarquia até se tornar a diretora financeira. Foi presa no Canadá em dezembro, lutando agora contra a extradição para os Estados Unidos, onde enfrenta acusações de fraude bancária.

Meng Ping, o segundo herdeiro, foi destacado para uma subsidiária da empresa. A mais nova, Annabel Yao, filha de um segundo casamento, estuda em Harvard, é apaixonada por moda e frequenta os círculos dos descendentes de grandes fortunas. Os hábitos de Annabel contrariam os do pai, a 83.ª pessoa mais rica da China, mas que nem sempre se comporta como seria de esperar de um bilionário – uma fotografia sua esperando um táxi no aeroporto de Xangai tornou-se viral nas redes sociais.

Cargo: Fundador e CEO da Huawei

Nascimento: 25/10/1944
(74 anos)

Nacionalidade: Chinesa