(Re)começar a treinar: dicas para voltar ao ativo

Texto de Cláudia Pinto

O cenário repete-se todos os anos. Durante agosto, a afluência ao ginásio diminui, o número de aulas disponíveis é menor e é frequente suspender-se a atividade por um mês. É tempo de aproveitar as férias e os momentos em família ou com amigos. No sentido oposto, em setembro, retomam-se as rotinas, recomeçam as aulas, regressa-se ao trabalho.

Pedro Dores, diretor geral da rede de ginásios People Family Club, em Sintra (a comemorar dez anos de atividade em novembro) e em Mafra (inaugurado em abril de 2017) tem números que comprovam que este mês é o mais forte em termos de inscrições ou reinscrições.

“Nos últimos anos, a concorrência aumentou com a abertura de muitos ginásios mas as pessoas também estão mais sensíveis para a prática de atividade física e, felizmente, temos vindo a crescer no número de praticantes”, afirma.

Ainda que a época que antecipa o verão seja motivadora para a decisão de iniciar uma atividade no ginásio, é em setembro que o regresso às práticas assume maior força. Depois de um período de descanso, de “estragos” típicos das férias, de dias de lazer e descontração, voltar à rotina do ginásio pode ser desafiante.

“Os que estão afastados mais tempo e não treinaram durante as férias voltam com maior resistência, menos mobilidade e maior rigidez articular e muscular”, salienta Teresa Viana, professora de ioga no Holmes Place (HP) da Quinta da Fonte, em Oeiras, no HP Amoreiras e no HP Miraflores.

Como tal, recomenda-se ponderação e calma. Se já tinha um bom ritmo antes mas esteve parado, não vale a pena fazer duas a três aulas de uma vez só. “No recomeço, aconselho uma tomada de consciência da resistência que temos. É preferível retomar aulas que já estavam habituados a frequentar e intervalarem com pausas de um a dois dias nos primeiros tempos.”

O corpo precisa de uma readaptação após as férias. É essencial que os professores oiçam os alunos, saibam quais as suas limitações físicas, que objetivos têm com o treino e proponham um plano de exercícios ajustado e personalizado. “Obviamente que, após uma ausência prolongada, há que sugerir uma modalidade com exercícios moderados e ir aumentando a intensidade com o tempo. Caso contrário, é mais fácil desmotivar e desistir”, sublinha Pedro Dores.

Esta é uma mensagem passada recorrentemente aos professores dos ginásios que dirige. “Há que perceber as motivações de cada aluno e personalizar um plano de treino. Sugerimos também que as pessoas diversifiquem as aulas. Ir ao ginásio tem de ser prazeroso.”

Dependendo do ritmo e da disciplina de cada pessoa, pode demorar um a dois meses até que sinta que voltou à atividade que é considerada normal para si. “O tempo de descanso e uma alimentação saudável são também importantes neste processo”, defende Teresa Viana.

Foto: Diana Quintela/Global Imagens

Contornar as desculpas
Foi em maio passado que Nuno Mendes fundou a New Me após dois anos de trabalho no conceito de “outdoor”. O treinador pessoal e técnico de exercício físico tem uma experiência de 16 anos em algumas das principais cadeias de ginásios em Portugal e sentiu necessidade de sair do paradigma de prática de atividade física entre quatro paredes.

“Deparei-me com queixas de falta de tempo e com a imprevisibilidade das pessoas irem ao ginásio por motivos de trabalho ou relacionados com a logística familiar.”

O objetivo da New Me é ajustar o exercício físico à disponibilidade dos alunos e assume-se como uma ajuda para quem procura o seu “novo eu”. “Adaptamo-nos àquele dia, àquela pessoa, àquela hora. Podemos dar uma aula em casa dos praticantes, em empresas, numa sala de condomínio de prédios, num jardim, etc.”, explica. Dividido em treino personalizado (que pode ser de um para um ou até quatro pessoas no máximo) ou aulas de grupo (com um limite de dez pessoas), os professores asseguram o material necessário para cada sessão de treino, planeando os exercícios com base nos objetivos dos alunos. A eles, é-lhes apenas pedido que compareçam equipados.

Como resposta às dificuldades diárias das vidas ocupadas dos sócios em idade ativa e com filhos, os ginásios People Family Club providenciam uma sala onde os pais podem deixar as crianças entretidas e sob supervisão, sem custos acrescidos.

“Temos aulas específicas para crianças, mas enquanto ginásio familiar, consideramos que temos de facilitar a vida das famílias, e mesmo que os filhos não treinem connosco, o pai ou mãe podem trazê-los e treinarem descansados”, destaca Pedro Dores.

Retomar a prática de exercício físico não é fácil. É frequente encontrarem-se motivos que adiam a decisão de recomeçar. A New Me voltou este mês às aulas de grupo, mediante inscrição prévia, no Jardim do Campo Grande, em Lisboa. Nuno Mendes denota uma maior preocupação com o peso: “A síndrome da balança surge muito nesta altura do ano. Os nossos alunos voltam de férias motivados mas inquietos com os quilos que ganharam. Apesar disso, surgem com vontade para voltarem a cuidar de si e estão predispostos a mudar.” Nos treinos personalizados, o foco é outro. “São pessoas mais focadas em ter um estilo de vida saudável. Nestes casos, o valor que aparece na balança não é o mais importante”, refere.

As modalidades são praticamente as mesmas ao longo de todo o ano, não se notando sazonalidade. O que se nota, sim “é uma maior necessidade de trabalhar pernas, braços e glúteos a partir do momento em que se começa a despir a roupa do inverno e o corpo aparece mais”, revela Nuno Mendes.

Como estratégia para ser mais assíduo, Teresa Viana realça que o horário de treino deve ser encarado como se se tratasse “de uma reunião que temos marcada com o CEO da empresa onde trabalhamos”.

Foto: Jorge Firmino/Global Imagens

Combater o sedentarismo
Querer praticar é o primeiro passo num caminho que pode ter altos e baixos. “É importante que a pessoa queira acrescentar algo à sua vida”, considera Teresa Viana. “Depois, terá de encaixar as aulas nas suas rotinas semanais, e o ideal será praticar duas a três vezes por semana. É muito fácil passar um mês sem ir ao ginásio e tornar este comportamento em algo que se prolonga durante o ano. Por outro lado, quando se pratica com alguma regularidade, é mais fácil manter.”

Segundo o Inquérito Alimentar Nacional e da Atividade Física (IAN-AF), promovido pela Universidade do Porto e publicado em 2017, “43% dos portugueses com mais de 14 anos foram considerados no nível ‘sedentário’, 30% no nível ‘moderadamente ativo’ e 27% no nível ‘ativo’”.

O estudo avaliou ainda a prática de atividade física nas várias regiões do país e concluiu que “as zonas sul do país (Alentejo, Área Metropolitana de Lisboa e Algarve) são as menos ativas, situando-se abaixo da prevalência nacional”. Por outro lado, a maior percentagem de pessoas a praticar atividade física são as do Norte, Centro e Regiões Autónomas. A região do Alentejo é a única com mais de 50% da população no grupo “sedentário”.

Disciplina e gosto pela atividade são dois ingredientes rumo a uma relação bem-sucedida com a prática. “Precisamos mesmo de trazer as pessoas para o exercício físico, seja ‘indoor’ ou ‘outdoor’. Passamos a maior parte do dia sentados a trabalhar ou no carro. O corpo está a mexer pouco e a cabeça trabalha cada vez mais”, argumenta a professora de ioga.

A New Me não existe para afastar as pessoas do ginásio. Inclui, aliás, praticantes que treinam em ambos os conceitos. “Se conquistarmos 5 a 10% dessas pessoas, já será uma vitória para nós. Há uma margem de progressão pois ainda temos uma grande parte da população inativa”, diz Nuno Mendes.

Pedro Dores confessa que esta é uma luta constante. “O sedentarismo é o nosso principal concorrente. O desafio passa por conquistar as pessoas que não têm qualquer atividade física no dia-a-dia, ainda que consideremos que há cada vez maior sensibilização para um estilo de vida saudável”, frisa o diretor-geral.

Ainda segundo o IAN-AF, a prevalência nacional da prática de atividade física desportiva e/ou de lazer programada, com caráter regular (incluindo o caminhar por lazer) “é de 41,8%, mais elevada nos homens (44,7%) do que nas mulheres (39,0%). O grupo das crianças foi o que reportou mais atividade (61,0%), contrariamente aos idosos, que se revelaram o grupo com maior inatividade”.

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