Na cozinha da portuense Olívia Fagundes Rocha, os livros antigos de culinária inspiram. Compra-os em feiras de antiguidades ou online e, na hora de passar do papel para o prato, há receitas que se cumprem sem saltar um único passo. Outras, porque os ingredientes já não existem no mercado, reinventam-se.
Os truques e sabores da sua comida são desvendados na Alquimia dos Tachos, o blogue que criou em 2010 para armazenar iguarias. Por lá encontra-se de tudo: entradas, pratos acabados de sair do forno, doces. Só de olhar cresce água na boca. É o caso do polvo à lagareiro, um dos seus pratos preferidos, cujo segredo reside na cozedura a vapor.
“O polvo fica com uma textura muito boa e não lhe sai tanto a pele”, garante Olívia, sem conseguir precisar a idade em que se apaixonou pela cozinha. Ainda assim, lembra-se de aos dez anos fazer leite-creme para os irmãos. Valença do Minho, a terra do pai, faz parte dessas memórias. “Chegámos a ir à matança do porco e aos fumeiros. Também ia com a minha avó apanhar coisas ao campo para alimentar o porco e a um riacho lavar as tripas para fazer os enchidos.”
É em blogues como a Alquimia dos Tachos que muitos pesquisam receitas. Esquecidos no tempo ficaram os cadernos gastronómicos escritos à mão. A arte do empratamento conjuga as vivas cores dos alimentos, captando a atenção dos mais gulosos.
As empadinhas de galinha de Vera Ferraz, do blogue Hoje para Jantar, são um sucesso nas festas de aniversário. Mãe de duas crianças e residente em Coimbra, confessa que a mais nova já ajuda na preparação. Gosta de cortar a massa, pincelar o ovo e colocar uma pequena estrela a decorar. “Como tenho frangos caseiros, sei exatamente o que elas estão a comer”, salienta a blogger, que nasceu em Midões, aldeia a 70 quilómetros de Coimbra.
Aprender a ler rótulos
O pão de banana da Teresa D’Abreu é uma boa opção para comer de forma saudável. Foi também a primeira iguaria que a filha, Judite, cozinhou. Partiu os ovos, esmagou as bananas e misturou tudo. A receita consta da longa lista de partilhas feitas no Healthy Bites, um espaço online que empresta o nome ao primeiro livro de Teresa, que vive em Corroios. Por lá, é fácil encontrar pratos e sobremesas sem glúten ou açúcares refinados. Há ainda um separador dedicado às crianças, com dicas para os lanches da escola e artigos sobre a introdução alimentar dos bebés.
A alentejana Márcia Patrício também deixa uma sugestão para levar na lancheira: bolitas, um snack feito de chocolate negro, tâmaras e amêndoa moída. Os frutos secos podem ser alterados consoante os gostos. A engenheira zootécnica de formação partilha as suas criações no blogue Temperos da Argas e num livro batizado com o mesmo nome. Em casa, a alimentação da família segue uma inspiração paleo, sem glúten nem processados.
E se a agitação do dia a dia nem sempre permite confecionar tudo de raiz, Márcia Patrício deixa algumas dicas para facilitar a escolha dos produtos no supermercado. “Se olharmos para o rótulo e não percebermos o que está na composição, provavelmente não é o ideal. Devemos também pensar se os nossos avós usariam aqueles ingredientes para fazer o produto. Por exemplo, um pão deve ter água, farinha, fermento e sal. Tudo o resto são alterações.”