Quimioterapia e alimentação. O que fazer?

Durante a delicada terapia, o organismo precisa de alimentos e não de produtos alimentícios. Mas não é o mesmo. Juliana Geraix, especialista brasileira em nutrição clínica e que vai marcar presença no Congresso Europeu de Nutrição Funcional, em Lisboa, revela à "Notícias Magazine" essas diferenças.

A quimioterapia é uma terapia citotóxica que exige vários cuidados. Alimentação incluída. Neste período de tratamento oncológico, o consumo de nutrientes aumenta, o que favorece um processo de desnutrição, podendo provocar deficiências nutricionais importantes. O tema será um dos assuntos abordados no VI Congresso Europeu de Nutrição Funcional, que tem lugar sexta-feira e sábado, no Centro de Congressos de Lisboa. As bebidas vegetais, o leite, os testes genéticos, a libido e a alimentação, os culpados do melanoma além do sol, o intestino e a sua ligação à ansiedade e à depressão, são alguns dos pontos em análise por especialistas nacionais e internacionais convidados para o evento.

Que alimentos fazem a diferença na quimioterapia? O assunto é delicado. A brasileira Juliana Geraix, especialista em nutrição clínica, uma das intervenientes no congresso, avisa que, dependendo da classe de quimioterápicos utilizados, é possível “ter toxicidade em vários órgãos, como coração, fígado, rins, medula óssea, ossos, gastrointestinais.”

“Essas modificações podem levar, por exemplo, a alterações de mucosas, causando mucosites, alteração de paladar, perda de apetite, dificuldade de deglutição, o que também contribui para uma menor ingestão alimentar e consequentemente a desnutrição”, refere à NM. Por mecanismos diretos ou indiretos, a quimioterapia pode contribuir para um quadro de desnutrição.

O organismo precisa de ser nutrido. Ponto final. Mas não de qualquer forma. Não é a quantidade que importa, é a qualidade que faz toda a diferença. “O organismo precisa de alimentos (alimentos da Natureza) e não de produtos alimentícios. Precisa de uma alimentação da naturalidade e não da normalidade, pois, hoje em dia, comer produtos alimentícios é normal e as pessoas entendem que esse seja o correto”, diz a especialista. Só que há diferenças.

Peixes, ovos e cogumelos são proteínas associadas a um menor risco de cancro

Quanto mais naturais os alimentos, melhor. O organismo necessita de quantidades adequadas de cada nutriente e cada caso é um caso. Juliana Geraix sublinha que tudo depende do equilíbrio. Nem de mais, nem de menos. A água é também preciosa na quimioterapia. “É um alimento fundamental para atuar no processo de filtração e eliminação de toxinas, e, portanto, deve ser estimulado o seu consumo durante esse período.” Água de qualidade. Quanto maior a quantidade de magnésio e bicarbonato na água, mais adequada será.

O consumo de fibras alimentares é de extrema importância durante todo o processo do doente oncológico, da prevenção ao tratamento. A ingestão adequada de frutas e vegetais é essencial. “As fibras alimentares têm ação anticarcinogénica além de estimular a defesa imunológica, por mecanismos de atuação molecular e de estímulo de uma microbiota intestinal saudável, por ter o potencial de aumentar a diversidade da microbiota intestinal.” “E o papel da microbiota em todas as etapas da doença oncológica também já é bem documentado na ciência, desde a prevenção, diminuição da toxicidade das terapias antineoplásicas e até mesmo em contribuir ou não para a resposta dos tratamentos”, acrescenta a nutricionista clínica.

De que é que o organismo realmente precisa durante o período de quimioterapia? “Os alimentos mais recomendados são os alimentos naturais, principalmente verduras, legumes, frutas que são ricos em compostos bioativos, vitaminas, minerais e fitoquímicos, bem como proteínas que são associadas com menor risco de cancro, como peixes, ovos e cogumelos”, responde Juliana Geraix.