Quim Torra: Tímido, feroz, radical

Texto de Alexandra Tavares-Teles

Traça o autorretrato: independente emocional, pessimista congénito e compulsivo, homem que lutou toda a vida pela independência do seu país, a Catalunha. Assume-se obcecado pela figura do jornalista e separatista radical catalão dos inícios do século XX, Eugeni Xammar i Puigventós, personagem que o levou a interessar-se pelos históricos do secessionismo, pela política e a quem roubou um lema de vida: “Tratando-se das coisas da Catalunha nunca tomo precauções”.

Amigos dizem-no católico e tímido. Intransigente, feroz, radical. Um homem que corta a direito, tática que aplica ao catalanismo. Em 2009, declarou: “Já não há mais catalanismo das direitas ou das esquerdas, nem liberalismo ou social-democracia, nem sequer democracia-cristã ou socialismo. Hoje, a batalha é unionismo ou independentismo”.

Essencialista, assume a hispanofobia. Das redes sociais – é um tuiteiro prolixo – desfere ataques violentos. “Os espanhóis só sabem espoliar” ou “vergonha é uma palavra que os espanhóis eliminaram há séculos dos seus dicionários”. Ou ainda, em dia de eleições autonómicas: “Fora daqui. Fora daqui de uma vez, deixem-nos viver em paz”. Não esconde o nojo que lhe provoca a essência espanhola. “Sensação de sujidade. Horrível.” Trabalhou como advogado na companhia de seguros Winterthur durante duas décadas (de 1987 a 2007).

Os anos de Suíça, como executivo, fizeram dele um suissófilo confesso. Apaixonado por literatura, regressaria à Catalunha em 2008, para fundar a editora “A Contra Vent”, decidido a recuperar os clássicos do jornalismo literário catalão (foi galardoado no ano seguinte com o prémio Carles Rahola de ensaio pela obra “Viatge Involuntari A La Catalunya Impossible”). E para iniciar a luta contra Espanha. Liderando a plataforma Sobirania i Justícia ou interpondo ações contra Madrid nos tribunais internacionais. Ativismo radical que levaria muitos a cedo considerar o seu nacionalismo de direita, agressivo, xenófobo, supremacista e ultra.

“Mais ativista do que governante”, critica parte da oposição catalã, a que pede a Torra a condenação da violência que grassa nas ruas da região autónoma, sobretudo nas de Barcelona, desencadeada pelas condenações, pelo Supremo, dos políticos independentistas.

Torra, apesar de ter defendido os polícias que tentavam deter os manifestantes, não evitou congratular-se pela tentativa de ocupação do aeroporto El Prat, nem participar na manifestação que cortou uma autoestrada, num braço de ferro com o socialista Pedro Sánchez, líder do Governo central, indisponível para o atender ao telefone e, por isso, a quem acusa de “silêncio clamoroso”. O controverso presidente da Catalunha, o 131.º, marido de uma professora, também ativista, e pai de três filhos, tomou posse no dia 17 de maio de 2018, substituindo Carles Puigdemont. De quem dizem ser um peão.