Presentes em contrarrelógio

Foto: Tony Dias/Global Imagens

A lufa-lufa dos dias vai adiando a tarefa. Para quem só pode abrir os cordões à bolsa em cima da hora da ceia, há dicas que ajudam a cumprir o objetivo com menos stresse.

Num exercício rápido de memória Cláudia Figueiredo, de 47 anos, natural de Aveiro, confessa que sempre houve um ou outro presente comprado às portas da noite de Natal. Era um prenúncio. Depois dos filhos nascerem a situação descambou.

O trabalho, os deveres de pais e tudo o que os dias iam acrescentando começaram a protelar o fazer da lista de presentes. Isto, aliado à perspetiva de se meterem em lojas ao fim do dia quando a cabeça só pede descanso, começou a resultar na correria a 23 ou 24 de dezembro.

Este ano, está visto, não será diferente. Dezembro não os solta da mecânica diária. Os treinos e competições de natação do mais velho que lhes sacrificam madrugadas e fins de semana. As rotinas do mais novo. O emprego exigente do marido como formador e supervisor da área de frutos e legumes da Jerónimo Martins na zona Norte.

Katya Delgado e o namorado Manuel de Oliveira optam pelo shopping por uma questão de comodidade (Foto: Tony Dias/Global Imagens)

O trabalho dela como diretora de planeamento no controlo de logística. Apesar de, no último Natal, terem jurado que isto não se repetiria já se estão a ver a meter pés ao caminho nos habituais malfadados dias. E se não houver outra opção levam o mais novo, que tem dez anos e é o mais dependente deles. Não é a situação ideal, mas o casal garante que não é isso que quebra a magia. “Eles sabem quem é o Pai Natal.”

Os presentes dos filhos são os únicos adquiridos com tempo. Não muito, “até porque os desejos deles mudam com facilidade”. Os pais usam estratagemas. “Muitas vezes encomendamos pela internet, outras é o meu marido que depois do trabalho vai comprar.” Para todos os outros a solução é mais prática. “Tentamos sempre ir ao comércio tradicional, porque não há paciência para shoppings. E assim também contribuímos para o pequeno comércio. Além de ser muito mais atrativo a nível de preços. Sem falar que há bastante menos confusão, o que torna a tarefa menos stressante quando não se encontra o que se quer, ou quando não se sabe o que oferecer”, argumenta Cláudia. Mas se pudessem faziam “as coisas com muito mais tempo”.

António Branco e Cláudia Figueiredo com os filhos Rodrigo e Tomás. As compras desta família são sempre feitas no comércio tradicional. (Foto: Tony Dias/Global Imagens)

O mês crítico e o stress

Os pais de Katya Delgado, 32 anos, eram assim. Pensavam nas pessoas, anotavam num papel o que lhes dar e iam às compras. “Um mês antes do Natal já estava tudo tratado.” A vida mudou um pouco desde que se mudou de Braga para Aveiro. Com o namorado, Manuel de Oliveira, partilha a gerência do bar Amazing Club e a vida. As compras de Natal estão incluídas no embrulho. “Vamos sempre os dois juntos.”

Dezembro é um mês crítico. Muitos jantares e festas no bar. Ou seja, organizarem-se para fazerem a lista é difícil, quanto mais executarem a tarefa. “Há dois anos consecutivos que é mesmo a 24 que nos metemos no carro e vamos buscar os presentes. É terrível porque há muita confusão, mas não nos resta outra alternativa.” Escolhem sempre o shopping, “é mais prático”.

Levam uma lista para não andarem às aranhas. Contudo, nem sempre corre bem. “Às vezes não há o que queremos e começamos a stressar.

Ainda por cima no dia 24 fecha tudo mais cedo. E bem.” Dividir a compra dos presentes também está fora de questão.

Manuel fica “perdido” sem a sua Katya. “Quer ir sempre atrás de mim e acabamos por discutir. Quando tivermos filhos vai ser muito pior”, diz num suspiro nervoso.

Há outra agravante. Katya ainda tem de tratar da lista do pai, que “não tem paciência”. Falta falar na exceção. “O único presente que compro sozinha é o do Manuel. Sozinha não, vou com uma amiga. Sem ideia do que vou escolher. Chego e vejo o que há. A sorte é que ele gosta sempre”, sorri.

O segredo da última hora

Esse é, na verdade, o objetivo de qualquer lembrança, frisa Mafalda Ferreira, professora no IPAM Porto. Segundo a docente, o número de pessoas que planeia e concretiza as compras antes de dezembro tem vindo a crescer. Principalmente devido às promoções. “Black Friday, Black Weekend, sábados sem IVA são aproveitados para a realização das compras de Natal, com quase um mês de antecedência da época festiva.”

Mas para todos os outros que não o podem fazer, Mafalda Ferreira deixa dicas de última hora. Há vários ângulos a ter em conta, que ajudam a encontrar soluções. Especialmente se as compras forem feitas muito próximas da hora da ceia. O segredo assenta em três ingredientes: o tempo real de que dispomos para fazer as compras, quanto queremos gastar e o perfil da pessoa que vai receber o presente.

Foto: Tony Dias/Global Imagens

Comecemos pelo fim. Identificar o perfil é de grande ajuda. “As crianças e os adolescentes, por exemplo, à partida já têm desejos estruturados. Os mais pequenos até escrevem cartas ao Pai Natal.” Mas pode-se sempre fugir à pressão da compra de bens materiais e até educar para o consumo. “Proporcionando novas experiências, em contextos que eles não estavam à espera, de forma a valorizarem novas experiências.” A diversidade é muita. Entre idas a exposições, passeios em família, aventuras.

“No caso dos adolescentes, a roupa e os acessórios são os mais desejados. Principalmente, os das marcas de que mais gostam, que não significa que sejam muito caras, mas são as que valorizam, tendo em consideração o contexto em que estão inseridos.” Neste caso, Mafalda Guimarães sugere os vales-prenda: rápidos de adquirir, podem ser solução para o destinatário “concretizar a compra de algo que goste efetivamente e as chances de acertar podem ser maiores”.

“Tipicamente o primeiro fim de semana de dezembro é muito forte.”
João Fonseca
Diretor do NorteShopping

Para os restantes as alternativas dependem de outros fatores, como o tempo de que se dispõe para fazer as compras dentro do tal “muito curto”. Há sempre “a solução mais massificada, ir aos shoppings”. De acordo com um estudo realizado no ano passado, nas duas primeiras semanas de dezembro – o período de compras por excelência – a maioria das pessoas (33%) opta exclusivamente pelas grandes superfícies na hora de comprar os presentes. Tradicionalmente, estão abertas até às 18 ou 19 horas de dia 24.

João Fonseca, diretor do NorteShopping, no Porto, confirma. “Tipicamente o primeiro fim de semana de dezembro é muito forte.” Com uma média diária de 60 mil visitantes. Mas esta não é a única alternativa, lembra Mafalda Ferreira. “Se a oferta for para alguém que se conhece mesmo bem, há outras opções com criatividade, por valores mais baixos, nos mercados de rua e lojas tradicionais, por exemplo.” Segundo o mesmo estudo, só 15% opta exclusivamente por esta modalidade.