Pedro Costa: cavaleiro solitário

Foto: Urs Flueeler/EPA

Texto de Alexandra Tavares-Teles

“O Pedro é extremamente difícil, exigente, complexo. Mas o resultado do seu trabalho é belo.” Belo “é a palavra certa”, repete Abel Reis Chaves, produtor dos filmes do realizador e amigo antigo.

Conheceram-se há mais de 30 anos. Pedro era frequentador assíduo do clube de vídeo de Abel, “vídeos pirata”, na Avenida da Liberdade, em Lisboa. Em 2006, fizeram o primeiro filme em conjunto. “Durante os últimos 15 anos” – conta – “estivemos sempre a trabalhar num meio muito duro e real, com pessoas reais e isso provoca angústia”.

Por isso, “o Pedro é alguém permanentemente preocupado”. Fora das filmagens ou do trabalho, raramente descansa. “Ao domingo, levanta-se, bebe um café e vai visitar a Vitalina ou o Ventura.” Em descanso, a conversa gira em torno dos heróis dos seus filmes. “Só relaxa depois da apresentação de um novo trabalho.” Como agora, após “Vitalina Varela” conquistar o Leopardo de Ouro do Festival de Locarno. “Fui buscá-lo ao aeroporto e vinha muito contente, finalmente a sorrir.”

Pedro Costa cursou História, mas desistiu. Filho do jornalista e realizador Luís Filipe Costa, preferiu a Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa. Inês de Medeiros esteve nos primeiros filmes do singular realizador: “O Sangue” (1989), “Casa de Lava” (1994), “Ossos” (1997).

“Era evidente que o Pedro Costa tinha um talento muito especial, com uma forma de trabalhar muito particular. Em busca de uma nova linguagem, iniciou depois um percurso cada vez mais ligado à realidade, sem abdicar do rigor estético.” Um realizador diferente também na direção de atores: “Tem uma forma de comunicar muito própria. Dá artigos a ler, imagens a ver. É muito visual e cinematográfico, até na forma de comunicar”. Ri: O discurso tradicional “não é o forte dele”.

À incompetência reage “veementemente”, sublinha Abel Ribeiro Chaves. Não vê no amigo ponta da “arrogância” que alguns atribuem ao realizador. Regressa à marca de Pedro: a exigência. “Sofre muito na rodagem. Quer atingir um grau de perfeição que nem sempre é possível. Basta que a luz não esteja lá. E por vezes passam-se horas, dias e dias nisto.”

Eurico de Barros não viu ainda o filme galardoado. “Mas fico muito contente com o facto de ter vencido um festival importante”, diz o crítico de cinema, apesar de não ser um incondicional do realizador. Explica: “Gosto muito de metade do trabalho de Pedro, mas a partir de ‘No Quarto da Vanda’, filme charneira, caiu num cinema a que chamaria de autismo naturalista, obcecado pelas mesmas pessoas, situações, ambientes”. Um cinema que, resume, “persegue a própria cauda”.

“Extremamente exigente, descobriu um método de trabalho muito próprio e encontrou em Abel Reis Chaves o produtor certo”, considera João Antunes, também crítico de cinema, recordando as várias e importantes distinções atribuídas à obra do português de 60 anos: “Lá fora, Pedro Costa é Deus”.

Paulo Trancoso, presidente da Academia Portuguesa de Cinema, fala de “um cavaleiro solitário: nas ideias, no estilo e na maneira de contar histórias”. Alguém a quem devemos “agradecer”.

 

Cargo: Realizador
Nascimento: 03/01/1959 (60 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)