Texto de Ana Tulha
Médica pediátrica no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, professora na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e investigadora – premiada, acrescente-se – no Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, também na capital. Eis a vida agitada de Patrícia Costa Reis, 37 anos, distinguida este ano com o Prémio “Mulheres na Ciência”. E ainda mãe de dois filhos. Como? “Faço ciência no meu tempo livre. Normalmente, de madrugada, entre as quatro e as sete horas, antes de entrar no hospital. Às vezes é um equilíbrio difícil, claro.”
Mas a lufa-lufa não a faz sequer pensar em abrandar. Até porque, para Patrícia, as funções de médica e de investigadora estão tão coladas à pele que dificilmente conseguiria desprender-se de alguma. “Se vejo uma criança com lúpus, dá-me gozo poder pensar sobre a doença numa perspetiva científica. Faço ciência pelo prazer intelectual. Mas a relação com as crianças e com as famílias dá-me outro prazer imenso. Além de que quando se estuda determinados artigos de ciência básica, depois acaba por se tirar ideias também para a prática diária.”
Por isso, Patrícia resiste ao corrupio de urgências, bancos – trabalha todos os fins de semana –, aulas e ensaios em laboratório. Tudo experiências a acrescentar a um currículo já cheio. Licenciada na Faculdade de Medicina de Lisboa, completou depois um programa de formação médica avançada da Fundação Calouste Gulbenkian e um doutoramento no Children Hospital of Philadelphia, na Universidade da Pensilvânia, Estados Unidos, onde se debruçou sobre o marcador da doença renal no lúpus.
De regresso a Portugal, em 2014, Patrícia concluiu a especialidade em pediatria, focando-se hoje nas subespecialidades da reumatologia pediátrica e da nefrologia pediátrica (relacionada com os rins). Mas não abriu mão da investigação do lúpus. Atualmente, procura perceber se os doentes que padecem dessa patologia têm uma maior permeabilidade intestinal, que abra caminho à passagem de bactérias para a circulação sanguínea e à ativação crónica do sistema imunitário.
O projeto poderá ajudar a estabelecer as bases necessárias para novas estratégias terapêuticas. “O lúpus é uma doença autoimune, em que o sistema imunitário se ataca a si próprio. Se conseguirmos manipular as bactérias que estão no nosso intestino, através de antibióticos ou vacinas, podemos ajudar a controlar o lúpus e a melhorar os sintomas”, deseja Patrícia. E a lufa-lufa prossegue.