Padrões militares voltam a marchar

Quando se fala em padrão militar é inevitável que nos venham à memória as fardas com estampado camuflado que oscila entre verde tropa, caqui e castanho. Tanto as grifes como as marcas de pronto-a-vestir voltam a apostar no padrão. Para homem e mulher, esta estação não faltam botas, sapatilhas, casacos, calças, t-shirts, bonés, mochilas e coordenados com “army print”.

Susana Marques Pinto, stylist, reconhece que o camo (ou seja, camuflagem militar) é um clássico: “Já há uns valentes anos é frequente as pessoas terem uma peça com o padrão no guarda-roupa”. A lisboeta assegura que “é um estampado bastante versátil. Pode ser coordenado e acessorizado com imensa coisa”.

A tendência é cada vez menos dirigida apenas ao público masculino, sendo frequente as marcas lançarem malas, saias e vestidos com padrão militar. Susana corrobora: “Neste momento é para homem e mulher, tendo em conta que a roupa para ambos os sexos tem cada vez mais semelhanças, ou melhor dizendo, menos diferenças”.

Joyce Doret, stylist há 18 anos, também acredita que o camuflado é um clássico, embora à mercê dos naturais altos e baixos da moda de cada estação: “Neste momento é uma tendência por causa do ‘come back’ aos anos 90”. A stylist afiança que “é um padrão universal e pode ser usado em várias ocasiões, dependendo da combinação”. Joyce concorda que o figurino se aplica a todos os géneros: “Nos anos 80 e 90 as mulheres começaram a usar algumas peças tidas como mais masculinas, como blazers, por exemplo. Hoje em dia toda a gente pode vestir o que quiser”.

Quanto a misturas de estampados com camuflados, a especialista em tendências é categórica: “O mais simples corre sempre bem, mas tudo depende de quem é e do que quer mostrar ao Mundo. A mistura até mostra criatividade”.

No que toca a peças chave para se ter no guarda-roupa, as profissionais de moda garantem que um casaco militar ou umas calças cargo são sempre escolhas seguras. Diz Joyce: “O casaco militar acaba por ser uma peça sempre na moda. Mesmo que passem as tendências, acaba por ficar. É versátil para homem e mulher”.

O padrão tornou-se popular durante a Segunda Guerra Mundial, devido aos uniformes dos soldados em combate, mas reza a história que terá sido inspirado no cubismo de Pablo Picasso.

Num relato de Gertrude Stein que remonta ao período da Primeira Guerra Mundial, por volta de 1915, a escritora afirma: “Lembro-me muito bem, no começo da guerra, de estar com Picasso na Avenida Raspail quando o primeiro camião camuflado passou. Era de noite, tínhamos ouvido falar de camuflagem, mas não tínhamos visto e Picasso espantado olhou para ele e depois gritou: ‘Sim, nós é que fizemos, isto é cubismo'”.

Desde então, o padrão de camuflagem militar foi sendo desenvolvido, dentro e fora do campo de batalha, atingindo o auge na moda nos anos 1990. Embora lhe lembre sempre guerra, Joyce admite que também remete para a luta por um ideal: “O padrão militar marca uma posição, uma atitude do passado que espero que não seja a do futuro”. Contudo, não deixa de ser “uma questão de gosto e do statement que as pessoas querem marcar”.

Diz-se da moda que é cíclica, por isso não espanta que nesta estação as pessoas tirem do armário a peça estampada que andava esquecida. As especialistas na área asseguram a versatilidade do padrão, apenas indicando as galas como situações em que possa ser menos conveniente usar algo tão marcante.

Apesar de ter sido inventado para permitir aos militares que se escondessem na vegetação – daí as cores das manchas mais comuns serem verde tropa, caqui e castanho –, o estampado dá nas vistas no quotidiano. E em todas as cores possíveis e imaginárias.

Um mundo para lá do estampado camuflado

1 – Cores
As estampagens são cada vez mais desafiadoras e a paleta cromática inclui vermelhos, azuis, laranjas, amarelos, pretos e rosas.

2 – Botas
As mais clássicas são as Dr. Martens, criadas durante a Segunda Guerra Mundial, mas hoje há marcas a preços mais acessíveis.

3 – Mochilas
As de inspiração militar possuem vários bolsos, fivelas e fechos táticos. Pormenores em couro e elásticos são frequentes.

4 – Calças e casacos
A forma das pernas perde-se no modelo cargo. Sobretudos com botões e quispos com golas de pelo também são comuns.

5 – Chapéus
Há modelos de bonés e boinas característicos do uniforme dos guerreiros. Boonies com corda lembram o traje bélico.

6 – Insígnias e pins
Adornos emblemáticos e peças metálicas remetem para o fardamento militar, nomeadamente as divisas ou galões para os ombros.