Osvaldo Ferreira: do Mundo para o interior de Portugal

A Orquestra Académica Filarmónica Portuguesa nasceu pela batuta de Osvaldo Ferreira e conta com 80 elementos

Texto de Pedro Emanuel Santos

Abram alas à Orquestra Académica Filarmónica Portuguesa, recém-criada na Guarda. Ou no “coração de Portugal”, como prefere dizer o maestro Osvaldo Ferreira, 54 anos de uma vida preenchida com mais de 600 concertos espalhados pelas melhores salas internacionais.

No currículo brilham direções de imponentes orquestras, como as de São Petersburgo (Rússia), Nuremberga (Alemanha), Lodz (Polónia), Chicago (Estados Unidos), Vicenza (Itália), Luxemburgo, Venezuela ou as portuguesas Gulbenkian e do Algarve. Além da liderança artística da Sociedade de Concertos de Brasília e da Oficina de Música de Curitiba, ambas no Brasil.

Natural de Paços de Brandão (distrito de Aveiro) e formado no Conservatório do Porto, Osvaldo Ferreira lançou-se numa aventura que começou no ano passado com a audição de centenas de jovens músicos dos 16 aos 23 anos e de onde saiu o quadro final dos 80 integrantes da agora formada Orquestra Académica Filarmónica Portuguesa.

“Uma necessidade para aproveitar a melhor geração de jovens músicos, com uma qualidade como nunca tivemos, condenada a emigrar porque não tinha soluções profissionais.” A ideia foi “tentar reverter esse processo” e, simultaneamente, apostar num interior “tantas vezes esquecido”, com “mal aproveitados” equipamentos de qualidade.

“É o grande projeto da minha vida. Não sou eterno, bem sei, mas posso perfeitamente deixar um legado para que os novos músicos e compositores mostrem as suas obras”, refere, com a humildade dos que fazem do altruísmo palavra de ordem e rumo de vida.

A Orquestra Académica Filarmónica Portuguesa surge como “rosto de transformação” de uma região que “necessita de investimento na cultura”. Porque continua a haver “lugar e espaço para uma orquestra a nível nacional”. E a existir alguém, como Osvaldo Ferreira, que aposta em quem parecia ter como único destino o esquecimento.

“Não é só em Lisboa e no Porto que as coisas acontecem, há que inverter tal tendência”, lembra o homem que já havia lançado a Orquestra Filarmónica Portuguesa em Viseu. Produzir “maestros e solistas de nível mundial” é o grande sonho de Osvaldo Ferreira, que não hesitou quando a hora foi de trocar a direção das maiores orquestras mundiais para lançar de raiz um projeto que pretende salvaguardar o futuro da música (e dos músicos) feita por cá. Na Guarda, longe dos holofotes mediáticos mais luminosos, embora muito bem afinados.