Onde está a sanita?

Texto de Joana Almeida Silva

É um elefante branco, um mono na casa de banho. A sanita convencional entrou nas casas portuguesas há 60/70 anos e Nuno Marujo ainda se lembra da latrina na casa dos avós. É um dos criadores da Ablute, uma sanita reinventada, embutida em 27 cm de parede, que se “esconde”.

No entanto, a revolução na estética do produto não é o único argumento para atrair investidores. Além do hardware, a startup de Viana do Castelo está a explorar a associação de tecnologia – a instalação de um chip para fazer análises instantâneas. “Permite um diagnóstico imediato na sanita. Imaginemos que as sanitas estão presentes em shoppings, de forma gratuita, o cliente tem acesso aos seus parâmetros de saúde. Não é apenas ter acesso a umas análises de urina tipo II, é ter essas análises gratuitas quando for à casa de banho, se pretender, e de forma interpretativa, com vocabulário compreensível, essa é que é a vantagem mais revolucionária.”

O chip já é uma realidade, está patenteado, mas ainda não está aplicado. O projeto é um dos finalistas do concurso GovTech, uma iniciativa do Governo para premiar produtos inovadores. “A pessoa não vai estar a prescindir da sua privacidade, vai ter acesso ao que não é possível mundialmente sem uma prescrição médica. Estamos a ser cautelosos e na vanguarda do melhor que se faz em todo o Mundo”, garante o empresário. O objetivo é que a criação tenha impacto na área da saúde. “Temos a possibilidade de oferecer um valor acrescentado muito mais forte, o de prevenção, antes dos sintomas.”

Obra de arte ecológica

Enquanto desenvolve o chip, a empresa tem já disponível um modelo da sanita inovadora. À lista de pré-vendas têm chegado clientes dos Emirados Árabes Unidos, Japão e Estados Unidos da América. Falta um investidor para alavancar a produção e o negócio. Para os construtores, há condições especiais, mas, para o consumidor final, o produto custa 4 990 euros.

Um preço “proibitivo” que faz parte da estratégia da empresa, cujo objetivo passa, sobretudo, por chegar aos grandes promotores. À revolução estética, juntam-se características que permitem a poupança de água. “Em vez de termos uma descarga gravitacional, com cerca de três litros, nós, com uma décima parte, conseguimos fazer a lavagem, com um pressurizador de água que é aquecida pela própria sanita e que lava não só a bacia como a parte do assento.”

Na base da conceção desta sanita está uma utilização prática, sem botões e ecológica. Na área do design, a meta é que os produtos fabricados venham a ser considerados “obras de arte, bastante diferenciados e que ocupem muito menos espaço”. E ambicionam lançá-las periodicamente e em regime de coleção, como acontece, por exemplo, com as peças de mobiliário.