Texto de Filomena Abreu
Quando irromperam pelas ruas de Paris mudaram a moda para sempre. No total, eram quase seis mil soldados. Vieram para dar suporte ao rei Luís XIII e ao Cardeal Richelieu, quando a França combatia na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). Na altura, existia uma cavalaria composta apenas por croatas, conhecida como “Royal Cravate”. Ao pescoço traziam uns lenços pitorescos. Faziam parte do traje dos mercenários.
Feitos de vários tecidos. Tecido mais grosseiro para os homens de baixa patente e de seda ou algodão para os oficiais mais graduados. Conhecidos por gostar de moda, os franceses não falavam de outra coisa. “Cravate” para aqui, “cravate” para acolá. Mas a moda só pegou realmente quando, no reinado seguinte, Luís XIV ordenou ao seu alfaiate que lhe criasse uma peça semelhante. E desde então o adereço nunca mais foi posto de parte.
Porém, julga-se que a utilização de algo semelhante a uma gravata já exista desde os egípcios. Nas descobertas arqueológicas foram encontradas múmias com amuletos conhecidos como “Nó de Isis” ao pescoço. Esse objeto possuía a forma de um cordão amarrado com um laço, cuja função era proteger o morto dos “perigos da eternidade”.
Outra origem possível da gravata remonta aos guerreiros do primeiro imperador da China, Qin Shi Huang, que também usavam uma espécie de lenço, em volta do pescoço, como símbolo de elite entre as tropas. Também os romanos chegaram a estar na mira da origem da gravata.
Na coluna de Trajano, construída em 113, vê-se nas figuras esculpidas que narram as vitórias militares contra os dácios, soldados a usar “focales” – tecidos amarrados aos pescoços e atados com um nó, que serviam para proteger o pescoço dos guerreiros da fricção constante da armadura na pele. Ou, então, para aquecer os pescoços do frio, ou para, depois de humedecidos, refrescar os soldados nos dias quentes. Mais tarde, acredita-se que este acessório tenha sido utilizado pelos oradores romanos para aquecer as gargantas.
Voltando a França, em 1650, a gravata amarra-se ao pescoço da corte do rei Sol. Rivalizava-se pela audácia. O adereço passou a ser fabricado em linho, seda e renda. Era usado tanto por homens como por mulheres, com um nó no centro, como a gravata moderna, e tinha duas longas pontas soltas. Anos depois, os soldados ingleses em campanha na Itália conheceram a “cravate” e levaram a moda para as ilhas britânicas e depois para as colónias na América.
A moda espalha-se pela Europa e pelo Mundo. Usada por reis, soldados, ricos e dândis, atravessou os continentes e os séculos seguintes, evoluindo sempre para novas formas. Na segunda metade do século XIX, quando a era industrial revoluciona a indústria têxtil, aparece uma gravata mais funcional – mais longa e mais estreita.
Em 1926, Jesse Langsdorf, um “tie maker” de Nova Iorque, teve a ideia de fazer uma gravata com três pedaços de tecido, cortando a ponta em bico, com ângulo de 45 graus, uma técnica chamada de “construção resiliente”. Nascia a gravata que hoje conhecemos. Símbolo de elegância e de status. Ao mesmo tempo que, por ser mais prática, abria caminho para que fossem usadas por qualquer pessoa. Do Nepal a Manhattan.
Curiosidade:
A 18 de outubro de 2003, a organização croata “Academia Cravatica” entrou para o Guinness, o livro dos recordes, com a produção da maior gravata do mundo. A peça, com 808 metros, 450,75 quilos de tecido e 120 quilómetros de corda, foi colocada ao redor de um dos grandes símbolos do país, a Arena, na cidade de Pula. A partir desse evento, a data passou a ser celebrada como o Dia Internacional da Gravata.