Objeto: um leque de possibilidades

Texto de Filipa Neto

Quase sempre composto por tiras de madeira e revestido por folhas, distintas no interior e no exterior, o leque chama a atenção pelas singulares pinturas sobre tecido, papel, pergaminho, rendas ou seda. Pode ainda ser ornamentado com bordados, lantejoulas, fios de ouro ou de prata. Plumas e penas de pavão oferecem glamour a um objeto que, mesmo nas versões mais simples, possui um requinte único e uma história com mais de cinco mil anos.

Os registos arqueológicos revelam que as primeiras representações datam de 3 000 a.C.. Gregos e romanos tinham no leque não só um refresco para os dias de calor, mas também um objeto de luxo, usado em ocasiões especiais. Com o passar dos anos, o encanto ultrapassou fronteiras e ganhou fôlego.

Entre os séculos VI e VIII, China e Japão renderam-se à sensualidade do leque e adotaram-no no dia-a-dia. Na China, os primeiros tinham forma oval e não se podiam dobrar, pois eram feitos de madeira ou de folha de palmeira. O Japão teve a capacidade de o reinventar – dobrável e de meia-lua -, uma mudança que vingou até aos dias de hoje.

A Europa não podia ficar para trás nas tendências e, durante o século XVI, comerciantes e ordens religiosas “importaram” o objeto das colónias localizadas a oriente. Começou por ser um produto raro e caro e, por isso, apenas usado pela nobreza.

Mas o leque não servia somente como acessório de beleza e requinte. Era também um meio discreto de sedução. A ideia de criar uma linguagem própria terá ocorrido durante o século XVII, mas, na verdade, a primeira referência efetiva ao assunto só surgiu dois séculos depois, quando Jean-Pierre Duvelleroy, um parisiense fabricante de leques, desenhou, num bloco de notas, um conjunto de movimentos que correspondia a pequenas expressões.

As inúmeras regras de etiqueta a que as mulheres tinham de obedecer na época acabaram por ser determinantes para que o objeto fosse adotado enquanto símbolo de sedução (ver exemplos ao lado). Num ápice, a fábrica Duvelleroy multiplicou a faturação. Hoje, é uma das poucas empresas que ainda fabrica leques na capital francesa.

Para além do código de sedução, o objeto passou a ser usado como complemento coreográfico. O flamenco (Espanha), a cariñosa (Filipinas) e a buchaechum (Coreia) são os exemplos de danças que não prescindem da sua presença.

O leque é mesmo versátil. Alguns até possuem espelhos, para que quem os utiliza observe o que está em seu redor, sem ninguém reparar. E, para aumentar o requinte, há quem o pulverize com perfume.