Tensão pré menstrual: não, não é uma invenção de mulheres com mau feitio

TPM. Com três letrinhas apenas se abrevia um dos mais temíveis inimigos das mulheres. Tensão Pré Menstrual (TPM) diz-lhe alguma coisa? Se sim, então sabe do que estamos a falar. E a sentir. Os sintomas vêm de todos os lados sem dó nem piedade. São físicos, emocionais, comportamentais, cognitivos, e repetem-se todos os meses. Moem o corpo, esmagam a alma.

Ansiedade, irritação, sensibilidade à rejeição, vontade de comer alimentos específicos doces ou salgados, tristeza, raiva sem razão, depressão, diminuição do interesse pelas atividades do quotidiano. Como se tudo isto já não bastasse, há mais coisas a acontecer no corpo feminino. Inchaço abdominal, acne, extrema sensação de cansaço, dores de cabeça, sensibilidade mamária, dores articulares ou musculares, aumento de peso, dificuldade de concentração e em dormir, afrontamentos e tonturas. Uma espécie de panela de pressão prestes a rebentar que diminui a qualidade de vida e a produtividade no trabalho e que aumenta as faltas no emprego e a marcação de consultas médicas.

A TPM leve é comum e afeta 75 por cento das mulheres com ciclos menstruais regulares. A mais grave atinge entre 3 a 8 por cento da população feminina.

«Os tecidos do organismo da mulher são sensíveis aos níveis hormonais que mudam ao longo de um ciclo menstrual. Estudos sugerem que variações dos níveis hormonais – por exemplo, estrogénios e progesterona – podem influenciar alguns produtos químicos no cérebro, incluindo uma substância neurotransmissora chamada serotonina, que afeta o humor», explica Hélder Ferreira, médico ginecologista do Centro Materno Infantil do Norte e professor do ICBAS – Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar.

E os sintomas são recorrentes, manifestam-se em média durante seis dias em cada mês. «O padrão de sintomas da mesma mulher pode alterar-se ao longo do tempo. Ondas de calor em mulheres que não estejam no pós-parto nem na peri ou pós-menopausa são altamente sugestivos de síndrome de TPM. Estas ondas de calor ocorrem ciclicamente e demonstrou-se serem fisiologicamente semelhantes aos afrontamentos», revela o médico.

A idade interessa para o caso. Depois da primeira menstruação, a TPM pode aparecer a qualquer momento. Quando aparece, ataca mais na segunda década, persiste ao longo da vida reprodutiva e torna-se mais chatinha nos últimos anos antes da transição para a menopausa.

«Normalmente, há remissão transitória dos sintomas durante a gravidez ou se há ciclos ovulatórios irregulares, e o desaparecimento completo dos sintomas ocorre após a menopausa.», diz Hélder Ferreira.

A genética também tem uma palavra a dizer. Os estudos, na sua maioria, indicam que há aqui uma forte componente genética. Hélder Ferreira conta que num dos maiores estudos de gémeos, os sintomas pré-menstruais mostraram-se altamente hereditários, embora os fatores ambientais também tivessem contribuído.

Há hábitos que fazem bem, outros que fazem mal. Alimentação rica em sal, consumo de álcool e cafeína, situações traumáticas, podem agravar sintomas da TPM. E, em teoria, tomar a pílula continuamente impede as alterações cíclicas hormonais que abalam o humor.

«Algumas mulheres sentem-se melhor depois que começam a tomar pílulas anticoncecionais. A pílula pode ser tomada continuamente para evitar ter um período menstrual. Para fazer isso, a mulher toma todas as pílulas ativas de uma embalagem e, em seguida, abre uma nova embalagem.»

O que fazer para atacar a TPM? Há tratamentos mais comuns como praticar exercício físico, investir em técnicas de relaxamento, pedir suplementos de vitaminas e minerais. Exercitar o corpo ajuda a aliviar o stress, a tensão, a ansiedade, a depressão. Se a barriga incha, evite-se então alimentos salgados e refeições abundantes.

Estas abordagens podem aliviar os sintomas em algumas mulheres e não têm efeitos colaterais. Mas e se não bastarem? A prescrição de medicação tem de ser colocada em cima da mesa como uma segunda opção. Segundo Hélder Ferreira, suplementos de cálcio e vitaminas D e B6 podem ser úteis para algumas mulheres. Anti-inflamatórios, como o naproxeno, podem atenuar sintomas físicos. Outras mulheres, com sintomas mais pronunciados, mais incomodativos, podem precisar de antidepressivos «como os inibidores seletivos de recaptação de serotonina.»