Texto de Pedro Emanuel Santos
O nome do cantor Lúcio Yanel talvez nada diga aos leitores. Radicado no Brasil, onde construiu carreira e fez sucesso, este argentino tem sido notícia nos últimos dias devido a um nobre gesto que saltou fronteiras e está a emocionar o mundo. Todos os dias – sem falhas – Lúcio senta-se diante da mulher, diagnosticada com Alzheimer há uma década e em estado avançado da doença, e dedica-lhe bonitas serenatas ao violão.
“Faço isso para atrair a sua atenção, penetrar-lhe na alma”, descreveu Lúcio Yanel, 72 anos, ao jornal brasileiro Globo. Foi um post recente do cantor no Facebook que deu a conhecer tamanha atitude de nobreza. A ternura que transparece de cada palavra escrita por Lúcio Yanel é quase um poema de amor dedicado à esposa e traduz a vontade de tudo fazer para lhe minorar o sofrimento enquanto o Alzheimer lentamente a rouba à vida e a entrega a um horizonte desconhecido difícil de decifrar.
“Já faz alguns anos que o maldito Alzheimer vai-me roubando a minha amada companheira. É para que me sinta ao seu lado, minhas serenatas diárias. Ela é Sueli de Fátima, amada companheira, tu é o meu melhor público”, assim escreveu o cantor, quase direto do sotaque gaúcho de Caxias do Sul, onde vive.
Longo e farfalhudo bigode, tronco nu, apenas vestido com uns calções cinzentos, sentado numa simples cadeira branca de plástico, Lúcio Yanel surge na imagem que acompanha o post de guitarra em punho perante Sueli, blusa vermelha, saia branca, cabeça ligeiramente inclinada para o lado direito, cabelos brancos em corpo magro. É assim todos os dias. O dia era de sol, a foto foi tirada por Pedro, o filho do casal. E tornou-se viral.
“Tudo o que eu faço parece que é pouco. Uma mulher simples, forte, inteligente, nada fazia pensar que poderia ter esse enlace na vida”, entristece-se Lúcio. “É uma chamada para todos nós, parece que estamos bem e já não somos nada. E não somos nada”, desabafa.
Sueli, 62 anos, era chef de cozinha. Os primeiros sinais da maldita doença surgiram quando começou a esquecer receitas culinárias que antes dominava com mestria. O Alzheimer avançou, galopante, até a deixar sem fala e praticamente sem locomoção, alheia a tudo o que a rodeia. Até ao violão e a voz de Lúcio, o marido que todos os dias lhe dedica bonitas serenatas. Amor do mais puro.