
Texto de Alexandra Lopes
António Vieira de Castro, lembra quem o conheceu, teve arrojo e visão para procurar os técnicos e as técnicas certas para a industrialização da produção de amêndoas e bolachas. Um esforço que marcou a empresa e as gerações seguintes. Estava-se em 1943 quando a Vieira de Castro começou “a história” do seu sabor. Primeiro as amêndoas, depois as bolachas.
É um sabor que se sente quando se chega perto das três unidades industriais localizadas em Gavião, Vila Nova de Famalicão, onde um aroma a bolachas a sair do forno nos transporta para memórias das bolachas Maria, Torrada, Água e Sal. E estas não são as únicas recordações despertadas pela Vieira de Castro: quem nunca comeu um rebuçado Floco de Neve ou uma drageia de chocolate?
Sendo certo que as unidades industriais da empresa estão em Gavião, tudo começou no centro de Vila Nova de Famalicão, numa confeitaria à época dedicada a produtos tradicionais e regionais, mais uma área de catering. Mas António, o fundador, sempre quis “fazer mais e melhor”. Um lema que permanece nos genes de uma empresa ainda hoje familiar.
“Ele [avô] entendeu que havia um percurso a fazer na área da industrialização, e foi quando se dedicou ao estudo e avaliação dessa possibilidade”, assinala Raquel Vieira de Castro, que faz parte da terceira geração à frente da fábrica de bolachas. O pai, Carlos Vieira de Castro, é o presidente do Conselho de Administração, do qual fazem parte Raquel e Carlos, o irmão.
“A Vieira de Castro é uma empresa extremamente dinâmica, que está a preparar-se para o futuro, que quer continuar da forma saudável e com as raízes de sempre: queremos ser sempre melhores e inovar, privilegiando a relação humana”, caracteriza Raquel.
Para comemorar os 75 anos, celebrados em 2018, a empresa levou os funcionários à Madeira durante três dias. “Era um sonho e uma promessa do meu pai”, nota a administradora. “Conseguimos concretizá-lo.”
E são os trabalhadores, muitos ali a trabalhar há décadas, que se entusiasmaram com o “processo interno de mudança e de utilização de novas metodologias” atualmente em curso nas fábricas do produtor de bolachas. Uma mudança nos processos industriais, diz Raquel Vieira de Castro, para “fazer melhor” e serem “cada vez mais competitivos”. Uma competitividade que passa fundamentalmente pela inovação.
“O saber fazer e o que esteve na base da Vieira de Castro, que é a sua tradição, é um alicerce para nos catapultarmos para a inovação. O segredo está em perceber o que sabemos fazer bem e o que podemos acrescentar. Podemos ter uma Água e Sal, uma Maria, Cláudias, e adaptá-las às mudanças dos consumidores.”
Nesse sentido, a empresa tem uma equipa de desenvolvimento, com cerca de três dezenas de produtos em mãos. No início deste ano, um novo tipo de bolacha, a Cream Cracker pimenta preta, sai para o mercado.
Amêndoas, chocolates, rebuçados
Na produção é possível observar todos os passos, desde a junção dos ingredientes para cada tipo de bolacha até ao molde da bolacha e cozedura. Nas unidades fabris existem linhas com 50 metros de fornos.
Em 2018 foi lançada a Água e Sal azeite e azeitona, para comemorar os 75 anos, com possibilidade de tornar-se um produto permanente. “Pode ser uma forma de conseguirmos internacionalizar a Água e Sal, porque é um produto que tem um valor enorme para a empresa mas não sai muito das nossas fronteiras”, explica Raquel.
Mas, já se disse, a empresa não vive apenas de bolachas. As amêndoas são um produto com um mercado nacional sazonal. Lá fora, pelo contrário, elas vendem-se o ano inteiro. O Brasil é o mercado exterior que mais consome amêndoas.
De resto, os chamados “produtos diferenciadores” têm tido um “crescimento interessante”. O último sinal veio da Barry Callebaut, um dos maiores produtores mundiais de chocolate, que começou a investir num novo tipo de cacau, o ruby. A amêndoa com chocolate ruby estará nas prateleiras na Páscoa.
Da Vieira saem igualmente os emblemáticos Flocos de Neve. Os rebuçados que fazem parte da memória de várias gerações de portugueses continuam a ser os que “maior notoriedade” têm no mercado, apesar das grandes mudanças neste segmento. “É uma área que temos estado a observar para perceber como desenvolver no futuro”, garante Raquel Vieira de Castro.
A marca regressou à origem e apresenta-se agora apenas como Vieira, já não tendo em “referências base” como a Maria e a Água e Sal os seus principais produtos. O Sortido Princesa e as Digestive estão por estes dias nos lugares cimeiros das preferências do maior fabricante português de bolachas e amêndoas. E apesar da bolacha Água e Sal ser consumida basicamente por portugueses, já a Maria é mais consumida lá fora do que em Portugal, com destaque para Japão e Estados Unidos. “É um produto icónico nos mercados internacionais”, assegura a administradora.
Com 300 colaboradores, a Vieira tem em curso uma concentração de investimentos. Além de estar a “otimizar” os processos industriais, a empresa duplicará o armazém e instalará três novas linhas de produção nas três fábricas que possui. Até porque, sublinha Raquel, “ainda temos muito para fazer”.
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