O lado verde do período menstrual

Copos menstruais estão a ganhar popularidade, mas há outras opções para preservar o ambiente, de lingerie própria para menstruação a pensos de tecido produzidos para usar nestes dias. E alguns até são portugueses.

Filipa Duarte, professora de Música de 33 anos, passou anos a usar pensos higiénicos. Preocupada com o lixo que andava a fazer, ainda tentou os pensos de algodão orgânico, “mas o desperdício continuava a ser grande”. Entretanto, conheceu o copo menstrual e rendeu-se. “Para mim foi uma solução excelente.” Para os menos familiarizados com o tema, trata-se de um copo reutilizável, que é introduzido no canal vaginal, à imagem de um tampão, mas que, ao invés de absorver o fluxo, o retém, através de um sistema de vácuo.

A opção de Filipa pelo copo menstrual foi só uma parte de uma mudança maior, suscitada por uma progressiva tomada de consciência em relação à forma como se tem tratado o ambiente. “Decidi que ia tentar reduzir ao máximo todo o lixo que fazia.” Foi há três anos. Desde então, Filipa não só tem posto o plano em prática como contribui para que outros o façam: começou por partilhar dicas no Instagram, hoje dá palestras sobre o assunto.

E não tem dúvidas de que o ambiente tem de ser uma prioridade. Com ou sem o período. Os números ajudam a validar a tese. Estima-se que, ao longo do período fértil, uma mulher gaste em média 11 mil pensos ou tampões. Sendo que um simples penso higiénico pode demorar décadas a degradar-se na natureza. Filipa lembra as várias alternativas ao dispor para evitar este flagelo.

“Além do copo menstrual, eu utilizo também um penso diário de tecido. Também os há sem ser diários. Até já há lingerie própria para a menstruação.” E ainda há os referidos pensos e tampões de algodão orgânico – embora esta solução permita apenas reduzir parcialmente o desperdício.

O copo menstrual é composto por substâncias não alergénias e pode durar até dez anos

O copo menstrual tem vindo a ganhar popularidade. Elizabete Gomes, representante em Portugal da OrganiCup, uma das marcas que o vende, ajuda a perceber o trajeto deste produto. “A ideia não é nova. Os primeiros copos foram inventados por uma senhora americana ainda no século passado. Mas foi um bocadinho mal-entendida.” Até porque os primeiros eram de borracha. E não de silicone. E o cuidado anatómico era mínimo.

Entretanto, o objeto foi evoluindo, com a qualidade do produto a subir e o preço a descer. “Mas houve sempre um misto de desconfiança e de desconhecimento. Até porque durante muito tempo o período foi um não assunto.” Só recentemente, defende Elizabete, o paradigma começou a mudar. “Estamos a falar de um impacto muito positivo em termos ambientais, com redução da pegada ecológica, visto que se trata de um copo que pode durar entre cinco a dez anos.”

Mas o copo da OrganiCup é só uma de muitas opções no mercado. Foi também para dar a conhecer produtos que permitem a reutilização – relacionados com a menstruação, mas não só – que, há mais ou menos dez anos, Sofia Catarino abdicou da área de formação para lançar A Pegada Verde, uma loja online onde se vendem garrafas e copos para café reutilizáveis, mas igualmente os badalados copos menstruais, aos quais também já aderiu. “Fazia imensas reações alérgicas aos métodos tradicionais. Por isso, rendi-me assim que experimentei. Além disso, e da questão ambiental, é muito prático, porque consigo sair de manhã e só retirar ao final do dia, quando chego a casa.”

E seguro, é? Paula Ramos, ginecologista no Hospital Lusíadas, no Porto, garante que sim. “Grande parte das minhas doentes ficavam com um certo desconforto depois de vários dias a usar o penso higiénico. Com o copo menstrual não têm esse problema, até por ser feito com substâncias não alergénias”, salienta, adiantando que tem cada vez mais pacientes jovens a recorrer a esta solução.

A Fluffy Organic & Eco, marca criada por uma portuguesa, vende pensos menstruais de tecidos (laváveis, portanto)

De resto, até já há portuguesas empenhadas em ajudar outras mulheres a poupar o ambiente, também em tempo de menstruação. É o caso de Marisa Fernandes: há três anos lançou a Fluffy Organic & Eco, que produz e comercializa produtos reutilizáveis, naturais, biológicos e ecológicos. Entre eles os pensos menstruais laváveis, que têm uma camada interior absorvente, revestida por um tecido impermeável. “Há mulheres que não se adaptam ao copo menstrual ou que usam durante o dia e que quando chegam a casa querem uma solução menos invasiva, que lhes permita estar mais relaxadas”, sublinha Marisa, antes de se jurar embrenhada numa missão de vulto: “Continuo a procurar mudar mentalidades e levar outras pessoas a experimentar”.