O homem que trocou África pelo Ártico

Texto de Filipa Neto

Tété-Michel Kpomassie saiu do Togo e rumou à Gronelândia. Tudo por causa de uma cobra.

A aventura começou num dia normal de Kpomassie. O então jovem estava no topo de uma árvore quando apareceu uma cobra. Assustou-se de tal maneira que caiu desamparado. A queda não passou de um susto, mas o medo de viver no Togo foi crescendo.

Foi então que um livro, “Les Esquimaux: du Groënland à l’Alaska”, de Robert Gessain, lhe forneceu uma saída. Aprendeu que no Ártico faz tanto frio que as cobras não passam por lá. Aos 16 decidiu sair do seu país e viajar durante oito anos até chegar à Gronelândia.

A sua chegada, em 1965, causou sensação entre os esquimós, como recorda numa entrevista recente à BBC. Era a primeira vez que viam um negro na região polar. Tété-Michel lembra que “assim que me viram pararam de falar, e de tão assustadas, algumas crianças começaram a chorar”. Mas apesar dessa reação inicial, confessa que foi muito bem recebido por todos e rapidamente fez amigos. Viu-se obrigado a aprender toda a cultura do povo esquimó, da língua às tradições e costumes. Quando reparou que comiam focas e pele de baleia branca, ficou um pouco apreensivo e não gostou quando provou, mas aos pouco foi-se habituando.

O escritor africano, agora com 78 anos, sentiu-se verdadeiramente integrado. Mas apesar de tudo, e por muito que gostasse de passar o resto da vida junto ao Círculo Polar Ártico, ambicionava partilhar toda a sua experiência e história com o povo de Togo. Decidiu então voltar, já sem medos, e escrever um livro. Demorou cinco anos a relatar a história que surpreendeu os esquimós: “L’African du Groenland” foi lançado em 1977.