Nuno Moniz: a democracia numa app

Nuno Moniz, 32 anos, deseja colocar a aplicação a trabalhar em tempo real e replicar a ideia na Europa e no Brasil. (Foto: Pedro Kirilos/Global Imagens)

Texto de Sara Dias Oliveira

Quando recua à infância, vê-se no meio de computadores. Há uma explicação. A primeira empresa informática a abrir no Faial, Açores, é do pai. Desde cedo, conviveu com essa maquinaria, mas, na hora de decidir o que estudar, o coração vacilou entre História, Música, porque tocava clarinete, e Engenharia Informática.

Escolheu a última. Fez as malas, rumou ao continente e, aos 18 anos, estava no Instituto Superior de Engenharia do Porto. O engenheiro, cientista, professor e investigador conseguiu meter num telemóvel o que se discute na casa da democracia.

A app meuParlamento.pt, disponível para Android e iOS, surgiu durante um almoço num café-restaurante do outro lado da rua da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, no Campo Alegre. Nuno Moniz e Arian Pasquali, investigadores do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência e da Faculdade de Ciências do Porto, e Tomás Amaro, engenheiro de software, tinham ideias a borbulhar para responder ao desafio lançado pelo Arquivo.pt – uma infraestrutura de investigação que permite pesquisar e aceder a páginas da web arquivadas desde 1996, de estimular a utilização da informação do seu acervo.

O trio resolveu apostar no que poderia ter mais impacto: uma app para votar decisões que mudam o rumo do país. A aplicação ganhou o desafio – um prémio de 10 mil euros entregue pelo primeiro-ministro.

A app é simples e intuitiva. Em pouco mais de um minuto, e com apenas três gestos, é possível votar nos assuntos que estiveram no centro do debate na Assembleia da República desde 2011. Qualquer tema, de qualquer partido, para aproximar os portugueses das instituições políticas.

“A questão da memória é muito importante. Se não nos lembramos das decisões que são tomadas, é muito difícil escrutinar, avaliar como as propostas foram votadas, com quem concordamos mais, com quem concordamos menos”, assinala. O dedo desliza para a direita se o sentido de voto for a favor, para a esquerda se for contra, a abstenção é para cima ou para baixo. Os utilizadores podem aceder ao texto das propostas, espreitar o site do partido proponente, ver notícias publicadas na altura sobre o assunto, saber quem votou da mesma maneira. Perceber em detalhe o contexto em que as propostas foram votadas.

A privacidade é garantida a 100%, não são pedidos dados, não são partilhadas informações. O projeto não vai ficar parado. Colocar a app a funcionar em tempo real, abranger o que se discute e vota nas juntas de freguesia e câmaras municipais, replicar a ideia na Europa e no Brasil, fazem parte dos planos.

Nuno Moniz, 32 anos, é curioso. “Está tudo por descobrir. O meu fascínio é prever casos raros, prever acontecimentos extremos.” Na sua tese de doutoramento, em Ciência de Computadores, desenvolveu um método para prever conteúdos altamente relevantes ou populares na Internet e ganhou o segundo prémio do Concurso Fraunhofer Challenge 2017.

Se os conteúdos que acabaram de ser publicados na web, ou publicados recentemente, não têm qualquer tipo de informação sobre o seu impacto, como é que poderão ser sugeridos? Esta foi a pergunta de partida. Concentrou-se nos níveis de atenção, previsões de popularidade dos conteúdos, casos raros de extrema exposição. Até porque resolver problemas concretos da sociedade é um dos seus objetivos de vida. “Sou um engenheiro tornado cientista, com todo o gosto.”