Nuno Magalhães: o político com uma palavra proibida

Foto: Jorge Firmino/Global Imagens

Texto de Alexandra Tavares-Teles

Nasce em Luanda, em 1972, numa família de classe média, ligada ao comércio. Chega a Portugal com quase dois anos, cresce nas Caldas da Rainha, sem sentir o rótulo de retornado, desde logo porque tem “uma enorme facilidade de integração”.

Aos 17 anos, Nuno Magalhães ruma a Lisboa para estudar Direito, influenciado por filmes como “A Few Good Men” (Uma questão de honra), de Rob Reiner, “decidido a mudar o Mundo”.

“Racional, mas com um lado emotivo”, viria a desiludir-se com a “barra”. Filho de um “CDS ferrenho”, a política acontece “por acaso”. Concretamente, em 2000, quando aceita ser assessor jurídico do partido, a convite de Narana Coissoró, no escritório do qual estagiara. Tenciona ficar dois anos. Leva 18.

Em 2002, aos 30, é secretário de Estado (Administração Interna), “fase boa” da vida, ensombrada no ano seguinte pelos primeiros sinais da doença da mãe, vítima de Esclerose Lateral Amiotrófica. Seguem-se 14 anos de impotência perante “a degradação” da mãe. “Nada me marcou ou marcará mais na vida.”

Dos oito anos de liderança do grupo parlamentar, vive o momento mais difícil com o anúncio da demissão de Paulo Portas – “meu amigo, guru e ídolo” -, do Governo de Passos Coelho. Sabe pela rádio e fica “sem chão”. “Foi o único dia da minha carreira política em que fugi para casa.”

Dele diz Paulo Portas: “Uma daquelas raras pessoas de quem se pode dizer vai descansado, fica tranquilo, o que o Nuno Magalhães está a fazer de certeza que estará impecavelmente bem feito. É sólido e seguro, à prova de bala”. Quando este abandona o partido, pensa na liderança, não esconde, mas desiste por considerar Nuno Melo e Assunção Cristas em melhores condições.

É deputado por Setúbal. Vem daí o orgulho maior do percurso político: “A eleição, em 2011, de dois deputados por aquele distrito perante a estupefação do país e do partido”.

O prazer da política, sim, mas confessa: “Se calhar gosto mais de futebol”. O Benfica é uma “obsessão compulsiva”. Diogo Feio, companheiro de partido, é do F. C. Porto. Dá conta de intensiva troca de mensagens em dias de clássico. Doutorou-se a 4 de março, dia de aniversário do amigo.

Sobre presentes: “O melhor será um cigarrito quando tal não é permitido”. Fuma 40 por dia. Um pesadelo, a proibição de fumo na Assembleia da República onde tem uma mania sagrada, que não sabe explicar: a lavagem das mãos antes das intervenções no plenário.

Homem de algumas peculiaridades, não conduz. Quando os debates na SIC eram com Bernardino Soares, regressava a casa à boleia do comunista. “A conversa descambava sempre para o futebol”, diz o autarca de Loures. Liga-os o Benfica. Também “a estima, o respeito e o cumprimento da palavra dada”, diz Bernardino. “É leal nos compromissos”, reforça Luís Fazenda, do Bloco de Esquerda. Uma palavra? “Incisivo.”

Quer sair da liderança do grupo parlamentar porque defende a renovação. Continua a gostar muito de ser deputado. Gostaria que os portugueses reconhecessem nele “um tipo sério e tolerante”. A palavra à centrista Cecília Meireles: “É alguém capaz de reconstruir pontes e tirar de cada um de nós o melhor”.

Não consegue imaginar o que o poderia fazer mudar de ideias na decisão programada para outubro. Porém, tem uma palavra proibida: “Irrevogável”.

Cargo: Líder da bancada parlamentar do CDS-PP

Nascimento: 04/03/1972
(47 anos)

Nacionalidade: Portuguesa
(Luanda, Angola)