Nova estratégia de combate ao mieloma múltiplo com células do osso

O transplante alogénico é frequentemente a única alternativa terapêutica

Texto de Sara Dias Oliveira

O mieloma múltiplo é uma doença maligna da medula óssea, é incurável, e representa 1% das doenças hemato-oncológicas. Por ano, morrem 600 portugueses com esta patologia e aparecem 300 novos casos. O seu impacto nos ossos é assustador: fraturas ósseas, complicações neurológicas, hipercalcemia, fortes acessos de dor e insuficiência renal. Neste momento, 68% dos doentes estão desempregados ou reformados.

Normalmente, a acumulação de plasmócitos cancerosos desenvolve-se em tumores dentro dos ossos, apesar de ter origem nas células sanguíneas. Desta forma, 75% dos doentes apresentam lesões, osteoporose ou fraturas. Esta perda óssea dá-se frequentemente nos ossos pélvicos, coluna, costelas e crânio.

A Associação Portuguesa Contra a Leucemia e a Sociedade Portuguesa de Hematologia acabam de anunciar o vencedor da terceira edição da Bolsa de Investigação em Mieloma Múltiplo, que estimula investigadores portugueses a darem mais um passo na qualidade de vida dos doentes com mieloma múltiplo. As duas instituições disponibilizam 10 mil euros para uma investigação de um ano que, no entanto, poderá estender-se por mais tempo – a bem da saúde.

Nas últimas décadas, devido aos avanços terapêuticos, a taxa de sobrevivência tem vindo a aumentar, mas ainda são necessárias novas perspetivas de tratamento da doença, nomeadamente para casos de recaídas ou situações de alto risco citogenético. Um quarto dos doentes morre um ano após o diagnóstico.

A doença é ligeiramente mais frequente no homem (1,4 casos para cada ocorrência em mulheres) e a maioria dos casos acontece em indivíduos entre os 50 e os 70 anos

O projeto vencedor apresenta uma proposta de uma nova metodologia para diferenciação osteogénica in vitro de células estaminais mesenquimais humanas derivadas de células estaminais pluripotentes induzidas. Tudo sem recurso a manipulação genética. Esta metodologia poderá fornecer pistas para o desenvolvimento de novas terapias para a doença baseadas em medicina regenerativa.

A grande inovação reside precisamente no emprego de células estaminais, que serão usadas como fonte de larga escala devido à sua elevada capacidade proliferativa a longo prazo e à sua capacidade de diferenciação em qualquer tipo de célula do corpo. O projeto será realizado no Instituto de Bioengenharia e Biociências, uma unidade de investigação do Instituto Superior Técnico (IST) da Universidade de Lisboa, reconhecido internacionalmente.

É mais uma porta que se abre para um futuro tratamento. Vasco Bonifácio, investigador do IST, explica que serão usadas nanopartículas oxidantes e que serão as células do próprio doente, transformadas em células de osso, que vão combater as células cancerígenas. Retiram-se células ao doente que depois regressam ao organismo, que se regeneram para que consigam travar a doença. Os testes serão feitos, em primeiro lugar, in vitro, não em humanos, para perceber se se trata de uma terapia segura.

A quimioterapia é a principal modalidade terapêutica do mieloma múltiplo. Contudo, a doença rapidamente se torna resistente à quimioterapia convencional e, nesta situação, o transplante de medula óssea é o único tratamento que oferece uma esperança razoável de controlo prolongado.