“Ninguém me tira a idoneidade, tenho demasiados amigos a falar bem de mim”

Notícias Magazine

Esta semana, nas entrevistas que nunca fiz, temos connosco o atual (pelo menos na altura em que esta entrevista está a ser feita) presidente da Associação Mutualista Montepio Geral, Tomás Correia. Senhor doutor, deixe-me dizer-lhe que o considero um homem com uma auréola.
Obrigado.

Mas é uma auréola que dá para os dois lados.
O que é que quer dizer com isso?

Porque é uma auréola que tanto pode ser vista como uma nódoa como uma santificação. Se por um lado o Banco de Portugal acaba de o condenar ao pagamento de uma coima de 1,25 milhões de euros por ter cometido várias irregularidades graves quando estava à frente do banco do Montepio…
Isso vai ser tudo esclarecido pelos meus advogados, apesar de eu detestar esclarecer seja o que for.

Ilustração: Mafalda Neves

Por outro lado, tem um padre, neste caso o padre Vítor Melícias [presidente da Mesa da Assembleia-Geral da mutualista], a defendê-lo, chegando ao ponto de dizer que: “Não é um secretariozeco ou um qualquer ministro que vai afastar uns órgãos sociais democraticamente eleitos”. Só faltou o padre Melícias dizer: “Não é um Deusinho qualquer que o vai castigar no Além”.
O padre Melícias tem toda a razão.

Eu percebo que o padre Melícias venha em seu socorro, e do Montepio, porque sendo ele franciscano e, portanto, uma pessoa despojada de bens materiais, nada como o apoio a esta sua associação mutualista que está claramente numa situação de pobreza. Ou pelo menos para lá caminha rapidamente.
A associação mutualista está sólida.

Não diga isso, quanto mais não seja porque já todos sabemos que essa frase dá azar. Quando vemos alguém responsável por um banco, ou semelhante, vir garantir que a situação é sólida, é a altura de ir a correr tirar de lá todos os euros que temos.
Nós temos a bênção do padre Melícias e isso é que é o importante.

Pois, mas ter lá um padre também pode dar jeito caso precisem de uma extrema-unção. Eu confesso que acho toda a sua situação muito confusa. O Governo diz que a Associação de Seguros é que tem de decidir se lhe tira a idoneidade, a Associação de Seguros diz que é o Governo.

Ninguém me tira a idoneidade, tenho demasiados amigos a falar bem de mim para que isso aconteça.

O Salgado também tinha e foi o que se viu. Mas já acredito em tudo. A verdade é que o senhor vai sempre passando entre os pingos da chuva e, em vez de acreditar na sua idoneidade, eu fico de boca aberta com a sua impermeabilidade. Por mim era atirar uma moeda ao ar para decidir, mas, depois do que eu já vi, tenho medo que ela caia na vertical.