Nídia Borges: sangue africano, batida global

Nídia Borges divide o tempo entre a produção musical, os espetáculos e a licenciatura em Comércio e Negócios Internacionais (Foto: Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)

Minaj em homenagem à icónica Nicki. Sukulbembe por ser um dos picantes mais fortes da Guiné, apesar de nunca ter pisado solo guineense. “É uma maneira de dizer que eu ardo”, confessa Nídia Borges, nascida no Vale da Amoreira, em Setúbal. A DJ e produtora musical de 22 anos tem feito carreira pelo Mundo e já foi referenciada por meios de comunicação internacionais conceituados, como o jornal “The Guardian” e as revistas “Rolling Stone”, “Resident Advisor”, “Pitchfork”, “Fact” e “Vice”.

Filha de pais africanos, era uma criança rebelde e alegre. Recorda as idas à feira e a insistência para que a mãe lhe comprasse CD. Os sábados a limpar a casa, com o som a ecoar alto das colunas. As amigas desse tempo, com as quais ainda hoje contacta. As festas multiculturais, em que havia lugar para todos os tipos de música. “Tudo começou com as festas do Vale. Queria estar naquele palco, que é gigante até hoje”, revela Nídia. Diz que a sua música é uma fusão. “É a minha identidade. Não a categorizo.”

Quando deu os primeiros passos na produção musical, no Centro de Experimentação Artística do Vale, percebeu que era aquilo que queria fazer da vida, mas não imaginava que a música lhe iria pagar as contas.

Aos 14 anos, emigrou para França com a família. Como passava muito tempo sozinha, dedicava várias horas por dia a produzir música. Começou a partilhar na SoundCloud e foi contactada pela editora Príncipe. Nídia tinha apenas 16 anos, mas muita vontade de singrar no mundo artístico. Um ano depois, lançou o primeiro disco, “Danger”.

Os convites para viajar pelo Mundo e mostrar o trabalho desenvolvido começaram a surgir e intensificaram-se quando, em 2017, saiu o segundo álbum – “Nídia é Má, Nídia é Fudida”. Um título controverso. “Foi um delírio que tive com as minhas amigas. A Lu deu o freestyle sem beat e o mambo colou.” O trabalho foi considerado pela revista “Rolling Stone” o sexto melhor disco de 2017, na categoria de música eletrónica, a nível mundial. As viagens sucederam-se. Deu shows nos quatro cantos do Mundo. “Estive em lugares onde nunca pensei que a música me levasse.”

Foto: Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

Em 2018, voltou ao bairro e à casa onde foi feliz. No mesmo ano, ingressou no curso de Comércio e Negócios Internacionais, no ISCAL, em Lisboa. Agora, no segundo ano da licenciatura, desdobra-se para continuar a produzir música todos os dias. Mas vê na faculdade o ponto de partida para a concretização do objetivo de abrir uma empresa ligada à indústria musical. “Quero viver da música. Quero ser um monstro da música: DJ, produtora, dona de uma editora. Não me vejo a fazer outra coisa.”