Músico canta para impedir suicídios

Foto: AFP

Texto de Ana João Mamede

Cerca de uma centena de pessoas suicida-se anualmente na floresta japonesa de Aokigahara. É um dos locais no mundo mais procurados por aqueles que pretendem acabar com a própria vida. Kyochi Watanabe, músico que nasceu na região e mora numa cabana nas proximidades do bosque, nunca gostou dessa sombria realidade. No entanto, há oito anos, decidiu tomar medidas para ajudar a mudar a estatística.

Desde então, numa rotina quase diária, Kyochi Watanabe, 60 anos, desloca-se até à entrada da “floresta do suicídio”, como é conhecida no Japão, para, com o poder da música, tentar dissuadir aqueles que pretenderem suicidar-se. As notas de “Imagine”, música de John Lennon, na guitarra de Kyochi são sempre as primeiras a ser entoadas. É uma tentativa de quebrar o silêncio da floresta e de lembrar às pessoas que vão ao bosque com o intuito de se matar que a vida não pode acabar ali. O japonês canta e toca, também, algumas das suas músicas preferidas.

“Eu nasci aqui, tenho que cuidar deste local”, afirma Kyochi Watanabe, convicto que a música é uma boa forma de atingir as pessoas atormentadas. Já viu, inclusivamente, algumas delas a sair da floresta, depois de se encantarem pelo som da guitarra e há mesmo quem lhe envie mensagens de agradecimento depois de terem sido ajudadas.

A má fama da floresta levou a que as autoridades locais colocassem na entrada do bosque uma placa com uma mensagem positiva – “A vida é valiosa. Pense com calma… Nos seus pais, irmãos e irmãs, filhos… Não desespere. Fale com alguém” – e o número de telefone de uma linha de apoio para a prevenção do suicídio.

Já em 2019 o polémico youtuber americano Logan Paul partilhou um vídeo, filmado no interior da floresta, onde exibia o cadáver de uma vítima de suicídio. As imagens causaram grande indignação, mas também suscitaram a curiosidade de algumas pessoas que, em poucos dias, tornaram Aokigahara como destino… turístico.

Apesar de as estatísticas terem diminuído desde 2016, o suicídio ainda é a principal causa de morte no Japão em cinco grupos etários. Independentemente dos números já serem mais animadores, Kyochi Watanabe não desiste da missão e continua, de guitarra na mão, a fazer tudo o que pode para que Aokigahara deixe de ser a “floresta dos suicídios”.