Marta Temido: gestora e jurista

Foto: Paulo Spranger/Global Imagens

Texto de Alexandra Tavares-Teles

De trato “fácil”, “conhecedora”, figura “simpática e elegante”, faz do sentido de humor “um mobilizador de energias”. A apreciação do médico e ex-diretor-geral da Saúde Francisco George releva ainda “a verticalidade e a competência, o humanismo e o interesse pela cultura” – sobretudo a literatura e o bom cinema –, “o conhecimento profundo da administração hospitalar e a vasta experiência no Serviço Nacional de Saúde”.

Diplomas não faltam a Marta Temido – licenciatura pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, doutoramento em Saúde Internacional, mestrado em Gestão e Economia da Saúde, especialista em Administração Hospitalar pela Universidade Nova de Lisboa. Na ação, subdiretora do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, presidente não executiva do Conselho de Administração do Hospital da Cruz Vermelha, líder da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares e do Conselho Diretivo da Administração Central do Sistema de Saúde.

Nessa função, geriu anualmente nove mil milhões de euros, além de mais de 120 mil funcionários, incluindo médicos e enfermeiros. Porém, três dos principais intervenientes na área da Saúde – dois bastonários e o ex-ministro – são parcos em palavras quando se lhes pede que tracem o perfil da ministra. “Sinceramente, não consigo fazer desde já uma avaliação fundamentada”, diz Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos. “Talvez daqui a dois meses.” Até lá, espera que episódios como o da alegada contratação de médicos a 500 euros/hora, denúncia de Marta Temido, prontamente desmentida, “não se repitam”.

Das duas reuniões que teve com a ministra, releva “a simpatia e a disponibilidade demonstradas para resolver algumas questões”. No entanto, enfatiza, “o que conta é a concretização”. Ideia secundada por Ana Rita Cavaco. Para a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, “o problema é que a ministra não é dona do dinheiro nem senhora de fazer isto ou aquilo”. Distingue: “Uma coisa é sentarmo-nos à mesma mesa, outra é negociarmos”.

Uma negociação, diz, “implica dar algo. Ora a ministra não tem algo para dar”. Esforçando-se por “deixar preconceitos de lado”, Ana Rita Cavaco garante que se fosse uma questão de simpatia “a ministra teria nota excelente”. O problema “não é relacional, nem mesmo quando chamou criminosos aos enfermeiros” – mais uma falha comunicacional que obrigou a ministra a um pedido formal de desculpas à classe. O problema é outro. Sobre a competência para o cargo: “Não a conheço suficientemente para uma melhor avaliação”.

A 15 de outubro de 2018, Marta Temido herdou uma pasta complicada e um duro processo negocial com médicos e enfermeiros. Afirmando-se “independente”, denunciara o subfinanciamento do sistema de saúde quando o antecessor comandava o Ministério, declarações que não se esperariam de quem liderara a Administração Central do Sistema de Saúde, cargo que abandonaria por moto próprio em dezembro de 2017.

Adalberto Campos Fernandes não comenta hoje notícias que na altura deram conta de alguma tensão entre si e a atual ministra. Sobre Marta Temido, é breve. Ao contrário da relação com outros ministros – Maria de Belém, Ana Jorge ou Paulo Macedo, com quem tem “contactos pessoais e de amizade” –, a relação com Marta Temido “é formal”. “Trabalhou comigo durante dois anos e enquanto ex-ministro desejo-lhe muitas felicidades no desempenho do cargo porque serão as felicidades do país.”