Mário Branquinho: programador visionário

Mário Branquinho, 53 anos, é um homem da cultura, licenciado em Ciências Sociais, mestre em Animação Turística. (Foto: Miguel Pereira da Silva/Global Imagens)

Texto de Sara Dias Oliveira

Na juventude, criou uma associação cultural e um grupo de teatro, foi presidente da associação de estudantes, colaborou com jornais e rádios locais, regionais e nacionais, aos 21 anos foi convidado para assessor cultural do então presidente de Câmara Municipal de Seia.

Foi jovem agente de desenvolvimento, envolveu-se em projetos para fazer crescer o interior, viajou por vários países. Em 1994, lembrou-se de criar um concurso nacional de vídeo de ambiente. Correu bem e foi o motor para o CineEco – Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela, único no país, um dos mais antigos do Mundo.

A 25.ª edição acontece dentro de dias, de 12 a 19 de outubro, na Casa da Cultura de Seia, com mais de 80 filmes de 28 países. “É um desafio imenso que nasce de uma ideia um pouco visionária. Em 1995, falar de ambiente não era a mesma coisa que é hoje.” É diretor do CineEco e programador da Casa da Cultura de Seia. “A cultura aqui é um instrumento de desenvolvimento.” O CineEco é “uma bolsa de resistência”. Nas adversidades, no tempo, na geografia.

Em 2013, esteve na fundação da Green Film Network, uma rede de 40 festivais de cinema de ambiente de todo o Mundo. Tem sido júri em festivais no Brasil, México, Argentina, entre outros países. No ano passado, foi convidado para organizar uma mostra de curtas no Fórum Mundial da Água, em Brasília.

Mário Branquinho, 53 anos, é um homem da cultura, licenciado em Ciências Sociais, mestre em Animação Turística. Alia duas paixões, o ambiente e a cultura, e o CineEco é como um filho e um “movimento capaz de alterar hábitos e de mexer com a consciência das pessoas”. Dirige o Festival Seia Jazz & Blues que este ano fez 15 anos, fundou e faz parte da equipa do ARTIS – Festival de Artes de Seia, que caminha para a 17.ª edição, publicou três livros de escrita criativa. O último, “Estranhos Dias à Janela”, saiu em 2015.

É presidente da Associação de Beneficência do Sabugueiro, aldeia onde nasceu, com lar de idosos, serviços de apoio domiciliário, um projeto de reinserção social na área das dependências, outro projeto com software específico para medir indicadores de saúde dos mais velhos. O Hostel Criativo do Sabugueiro é a sua obra mais recente. “Havia um edifício a degradar-se, lembrei-me de transformá-lo em hostel.” Um velho centro de dia deu lugar a um espaço com 34 quartos e portas abertas a residências artísticas de música, fotografia, artes plásticas, cinema e literatura.

Apaixonado por aquilo que faz, dá visibilidade e projeção ao interior, é beirão com orgulho, não no sentido provinciano. “Somos capazes de criar ambientes cosmopolitas tão ou mais ricos do que nas grandes cidades”, garante. Anda em ritmo acelerado todo o ano, quer dar conta de tantos recados. Sobe montes, faz caminhadas, anda de bicicleta, sempre com a natureza por perto. “O sonho é sempre fazer mais e melhor, continuar a escrever, organizar coisas de que gosto, manter a ligação a esta região.” Sai para se inspirar, volta para viver. A serra está-lhe no sangue.