Texto de Sara Dias Oliveira
Vejo bem... Frontal. Não há dúvidas sobre isso (e não sou só eu que o digo). Destemido. A minha vida fala por mim. Mais determinado do que teimoso. Sei racionalizar a minha teimosia. Não sou obcecado. Não me resigno, não me conformo. Sempre tive um grande sentido de urgência em relação a tudo o que faço, de dar a volta às situações – na ditadura, na guerra. Alguns chamam-lhe arrogância. Irrito-me com a estupidez, com a mesquinhez, com a inveja, com a deslealdade. Irritam-me aqueles que estão sempre a adiar a vida, as soluções. Sonhador no sentido em que sempre procurei ver mais longe do que a ponta do nariz, sempre pensando no futuro não só individual, mas do país. E lutei por isso. A família é o baluarte. Preocupo-me com o futuro dos meus filhos e dos meus netos. Tenho um grande sentido de liberdade. Não sou pessoa de baixar a cabeça.
Vejo mal… Sou impaciente, mas só a impaciência é revolucionária. Por vezes, reajo intempestivamente, reajo a quente, nem sempre de uma maneira temperada. E é um defeito. Tenho boa-fé, acredito na boa-fé, mas, por vezes, exagero. Não me sei defender da minha própria boa-fé. Não me atualizei na partilha dos trabalhos domésticos. Não sou propriamente um exemplo. Pelo contrário.
Escritor e político
83 anos