Luís Onofre: o fazedor impaciente

Foto: Maria João Gala/Global Imagens

Texto de Alexandra Tavares-Teles

No verão de 1989 decidiu o futuro profissional numa cabine telefónica da Costa da Caparica. Terminara o 12.º ano e encontrava-se de férias em casa de uns primos sem saber o que fazer a seguir, dividido entre duas vocações de miúdo: a arquitetura e a decoração de interiores.

Não escolheria uma nem outra – da conversa ao telefone com o pai, longa (a meio teve de se reabastecer de moedas) e num contexto inusitado, sairia a decisão de dar seguimento ao projeto familiar, uma fábrica de calçado, iniciado pelo avô paterno nos anos 1930. Está-lhe no sangue: a avó, mulher de armas, “sabia fazer um bom sapato”, assim como o pai, ainda hoje, aos 82 anos, seu “mestre e conselheiro”.

A atriz Maria João Bastos, devota das peças, lembra o amigo “leal”. O designer “inspirador, que ousa e experimenta”. Que arrisca. Em 1993, a primeira coleção de sapatos, “apresentada cedo de mais”, foi um erro. Porém, regressaria em 1999 com a lição aprendida, mais maduro, “mais humilde”, para lançar a marca Luís Onofre e tomar o mercado.

Em 2009, faturava 2,5 milhões de euros. Em 2012, chegava aos dez milhões, com seguidoras famosas em todo o mundo. Resiliente, resume o sucesso a “trabalho, trabalho, trabalho”.

Presidente da APICCAPS, foi agora nomeado líder da confederação europeia do setor para o próximo triénio. A escolha, que se traduz em “prestígio pessoal e para o setor” e resulta do “reconhecimento internacional” da nossa indústria, deixou-o “muito feliz”.

O estilista Manuel Alves, nesta fase em contramão criativa relativamente ao glamour sexy que carateriza as peças Onofre, reconhece-lhe, contudo, a “sofisticação dos sapatos, o talento e a visão”. José Azevedo Pinto, em nome da concorrência, lembra que é “do melhor que se faz em Portugal”. “Uma inspiração para todos”, diz o CEO da Lemon Jelly.

Capaz de se colocar nos sapatos dos outros, não é grande consumidor. Nem encontrou ainda resposta para o que leva tantos homens e mulheres ao impulso irresistível de um par de sapatos. Agradece, porém, o arrebatamento, traduzido por vezes em encomendas bizarras. Como a da israelita que há uns anos pediu uns sapatos ornamentados com pequenos diamantes, mais de dois mil euros o par.

Ana Sofia Martins chama-lhe pai. “Devo ao Luís a minha paixão por sapatos”, diz a manequim. “Passei de maria rapaz a maria Luís Onofre. Foi com ele que descobri a minha feminilidade e isso não é coisa pouca”. Ri. Em casa, tem 13 pares assinados pelo amigo. Que descreve: “Eterno ar de rapazola e um imenso sentido de humor”.

Luís Onofre nasceu em Oliveira de Azeméis há 48 anos, vive no Porto, depois de uns anos em Matosinhos, por causa do mar. Acorda antes das sete da manhã, marca de uma impaciência que vem de sempre. Mesmo em férias. Perto do mar e da família – a mulher, Ariana, e os filhos Beatriz (20), Marta (17), Maria (12) e Vicente (seis meses). “Não há dias maus”.