Luís Menezes Leitão: com o Direito no sangue

Foto: Sara Matos/Global Imagens

Bisneto, neto, filho e pai de advogados, marido de uma juíza, tem nas leis mais do que a profissão ou carreira: o Direito é algo sem o qual o recém-eleito bastonário da Ordem dos Advogados não saberia viver. A forte tradição familiar impôs-se, sem resistência – a fase adolescente em que ponderou seguir os passos do bisavô médico foi breve -, o caminho natural, cumprido desde sempre na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

Alma mater onde entrou no início dos anos 1980 para se destacar como aluno, licenciado em 1986 com a classificação de 16 valores, mestre em 1991, com 18 valores, doutor em 1998, aprovado com Distinção e Louvor. E como professor, agregado em 2006, aprovado por unanimidade, docente exigente, cara de poucos amigos, capaz de reação violenta perante a ignorância e o desmazelo, figura que deixa marca indelével em quem lhe passa pelas mãos.

A intenção de seguir a Academia ficou clara desde cedo. “Era igualzinho a todos os outros alunos de Direito – gente que gosta de debates, de política, de História e de Filosofia. Mas destacava-se por ser um ótimo aluno. Com notas fantásticas, a Academia era o destino”, diz Júlio Elvas Pinheiro, 57 anos, advogado. “Pelo facto de ser um aluno diferenciado, talvez houvesse quem o achasse arrogante e marrão, mas não era nem uma coisa, nem outra”, acrescenta.

Nesses anos, despontava também em Menezes Leitão, dedicado praticante de artes marciais e mestre em bridge, o gosto pela política. Militante do PSD, o gosto não viria, porém, a concretizar-se em função executiva.

Na Ordem, conhece os cantos à casa. Júlio Elvas Pinheiro partilhou com o amigo assento no Conselho Superior, órgão presidido por Menezes Leitão nos últimos anos. “Tem uma enorme capacidade de trabalho e conseguiu pôr afinado um grupo heterogéneo de 21 pessoas.” Tarefa difícil, “ainda mais tratando-se de advogados”.

Agora, porém, exigem-se outros trabalhos e maior intervenção pública, a que não foge. É contra os pactos na Justiça. Contra a delação premiada. Contra os tribunais especializados nos crimes ligados à corrupção. “Não é de panelinhas e vai fazer-se ouvir sobre a Justiça. O que disser e defender é aquilo em que acredita.” José Iglésias Soares, jurista 59 anos, diz ainda do amigo antigo: “É um homem muito inteligente, combativo, trabalhador”. “Determinado ou teimoso”, afirma o novo bastonário. Depois de uma primeira candidatura derrotada, fez-se finalmente eleger. “À derrota reajo sempre de forma positiva.”

Gosta de tertúlias. “Assertivo, muito opinativo, com um saber enciclopédico”, reforça Júlio Elvas Pinheiro. Tornou-se uma cara conhecida por dirigir há muito a Associação Lisbonense de Proprietários. Nasceu em Coimbra, cresceu em Lisboa, onde vive desde criança. Faz duas grandes viagens por ano. Gosta de fado – coimbrão e de Lisboa – e de ópera. É benfiquista. Escreve em blogues e adora cinema. Considera “O Irlandês”, de Scorsese, “uma obra-prima”. E cita várias vezes “Il Gatopardo” (o Leopardo), de Visconti. “Se queremos que tudo continue como está, é necessário que tudo mude.” Máxima que não tenciona seguir nas novas funções.

Foto: Sara Matos/Global Imagens

Luís Manuel Teles de Menezes Leitão

Cargo: Bastonário da Ordem dos Advogados
Nascimento: 10/10/1963 (56 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Coimbra)