Jürgen Klopp: The normal one

Foto: Fernando Veludo/EPA

Texto de Alexandra Tavares-Teles

Na hora da vitória, Jordan Henderson, capitão do Liverpool, entrega-lhe os louros. “Sem ele, seria impossível. Aquilo que fez desde que chegou é inacreditável. Criou um balneário especial”, diz o jogador na celebração da recente conquista da Champions League.

Na hora da derrota, há precisamente um ano, após uma final perdida para o Real Madrid, o lateral-esquerdo Andy Robertson exaltava, de igual modo, a personalidade do líder. “Sabe exatamente o que fazer e quando fazer. Usa o humor de forma muito inteligente. Por ele queremos fazer tudo bem, enfrentar tudo. É, sobretudo, uma influência calmante.”

E há seis anos, noutro mau momento, Marco Reus, atacante do Dortmund, finalista vencido da Champions 2012/13, rendia homenagem ao técnico que então comandava a equipa. “Klopp faz-nos felizes.”

Alvo dos elogios na “doença e na saúde”, Jürgen Klopp não tem “ilusões de grandeza”. Afirmou-o à chegada a Liverpool, em 2015. “Alguém nesta sala acha que posso fazer maravilhas? Venho da Floresta Negra, a minha mãe provavelmente está sentada em casa, observando-me, incapaz de entender uma palavra do que estou a dizer, mas muito orgulhosa.” Declarou-se então “absolutamente normal” – “the normal one”, alusão bem-humorada a “the special one”, autodefinição de José Mourinho utilizada por fãs e jornalistas.

Nascido em Estugarda, capital de Baden-Württemberg, filho de um vendedor ambulante e treinador de guarda-redes, tem “a virtude do senso comum”. A fazer-se sentir no balneário, onde traça uma linha intransponível – a que divide amigo de amigalhaço. “É importante ter muito respeito pelos jogadores, nunca esquecendo, porém, que sou o maior responsável. Tenho regras e, portanto, não há discussão sobre o quanto treinamos.”

Klopp cresceu com duas irmãs mais velhas em Glatten, na Floresta Negra, terra de relógios de cuco e contos de Grimm. Entusiasmado pelo pai, aproveitava as horas vagas do emprego num clube de vídeo para jogar no clube de Glatten. Perdido o sonho infantil de enveredar pela medicina – “não era esperto o suficiente para seguir a carreira” -, obtém o diploma em Ciências do Desporto na Universidade Goethe (Frankfurt) com uma tese sobre marcha desportiva. Já pai, preocupava-o o sustento da família.

Como jogador, não iria além da mediania. “Nunca consegui fazer em campo o que acontecia no meu cérebro. Tinha talento para a quinta divisão e cabeça para a Bundesliga”, comentou.

Como técnico – compara o seu futebol ao heavy metal -, e depois de seis finais perdidas em quatro épocas, entrou para o jogo da vitória a brincar: “Devo ser o recordista mundial a ganhar meias-finais”. Mas grato: “Tenho na vida mais do pensaria ter – família, dinheiro, futebol. Nem os meus pais nem os meus professores acreditavam que isso seria possível”, diz.

Provavelmente. O certo é que a imprensa inglesa dá conta de “um pensador brilhante, com uma inteligência emocional profunda que lhe permite comunicar poderosamente com as pessoas”. Resumindo, “alguém muito especial”.