Julian Assange: esplêndido mentiroso

Foto: Facundo Arrizabalaga/EPA

Texto de Alexandra Tavares-Teles

Em 2010, explicou a razão de ser de tamanho ego. “É o que acontece quando se é muito mais brilhante do que as pessoas com quem se anda. Que é o que eu era na adolescência”, disse.

Ego enorme. Criminoso para os detratores, revolucionário sem mácula para os fiéis, mestre de uma tecnologia que pode ser usada para o bem e para o mal, consubstanciada na WikiLeaks, site de que é fundador e através do qual interferiu nas maiores instituições mundiais.

“Jornalismo científico”, chamou à divulgação de centenas de milhares de documentos confidenciais. Ou a avidez do poder que muitos lhe reconhecem. Um poder novo, conferido por meio de ferramentas simples, à margem da lei, desafiador de soberanias e da democracia.

Participante ativo na corrida presidencial americana em 2016, acusado de conluio com Trump e Putin visando a derrota de Hillary Clinton, Assange é há muito procurado nos EUA. Em 2010, o WikiLeaks publicou quase meio milhão de documentos do exército americano, ameaça à segurança nacional do país. Alvo de um mandado de extradição dos EUA por crimes de informática, muitos pediam que fosse perseguido com o estatuto de terrorista.

Procurado também na Suécia, aqui por agressão sexual, pediu asilo ao Equador. Concedido em agosto de 2012, o asilo confinaria Assange à embaixada daquele país, em Londres. Sete anos depois, a 11 de abril de 2019, garantindo primeiro que o australiano “não seria extraditado para um país onde pudesse enfrentar tortura ou a pena de morte”, o Equador retirou a oferta, pondo termo a um cativeiro com tanto de dourado quanto de opressivo.

Um Mundo físico altamente policiado, que foi causando mossa na personalidade lunática e muito desconfiada de Assange. Surtos de depressão, ansiedade, insónias prolongadas. As visitas eram contadas. O quarto em desordem, a falta de higiene.

Em 2017, Assange declarou à “New Yorker”: “As paredes da embaixada são tão familiares quanto o interior das minhas pálpebras. Eu vejo-as, mas não as vejo”. Atualmente sob custódia da Polícia Metropolitana de Londres à espera de uma solução judicial, descreve-se com as palavras de sempre: “Destemido ativista”.

Teve uma infância errática – os pais trabalhavam numa companhia de teatro itinerante -, estudou em várias escolas, em casa, tirou cursos por correspondência. Adolescente, conseguiu violar vários sistemas altamente fortificados, incluindo os da NASA e do Pentágono. Em 1991, as autoridades australianas produziram 31 acusações de cibercrime projetando no país o apelido hacker “Mendax”. Derivado de uma frase em latim, atribuída a Horácio: “Splendide mendax”. Que significa “esplêndido mentiroso”.

Julian Paul Assange (nascido Julian Paul Hawkins)
Cargos: Programador de computador e hacker, fundador da WikiLeaks
Nascimento: 03/07/1971 (47 anos)
Nacionalidade: Australiana