Juan Guaidó: o presidente que nasceu na rua

Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters

Texto de Alexandra Tavares-Teles

Sobreviveu a uma das piores tragédias naturais da Venezuela, dois dias de horror, 14 e 15 de dezembro, de que resultaram entre dez mil e 30 mil mortos, número recorde de vítimas mortais provocadas por aluimento de terras. Foi em 1999. Juan Guaidó tinha 16 anos, vivia com os pais e cinco irmãos mais novos em Vargas, o estado afetado pela calamidade enquanto em Caracas, Hugo Chávez, recém-chegado ao poder, dava início ao chavismo e à sua revolução.

Duas tragédias para a família – a Venezuela não voltaria a ser a mesma, confessaria mais tarde. Sentiu a fome provocada pela devastação, assistiu à partida do pai, rumo a Espanha, ditada pelo desagrado com o regime. Wilmer Guaidó Vidarte, taxista anónimo em Tenerife, perdeu há dias o direito a uma vida pacata. Procurado por jornalistas, conta histórias do tempo em que pilotava aviões em Vargas, confessa o orgulho e o medo. Teme pela segurança do filho. Todas as noites, no WhatsApp, a bênção é, porém, de ânimo: “Vai em frente”.

Ninguém nega coragem e arrojo a Guaidó, 35 anos, o mais jovem presidente da Assembleia Nacional venezuelana de sempre, eleito a 5 de janeiro, um pouco por acaso. Não sendo político de grandes discursos, autoproclamou-se em poucas palavras presidente interino do país, “até à realização de eleições livres”, enfrentando Nicolás Maduro e um governo que controla as forças armadas.

“Miúdo brincando à política” e “presidente da república da Wikipédia”, tem ironizado Maduro. Iris Varela, ministra de Serviços Penitenciários, ameaçou-o com a prisão, pouco antes de ser de facto detido, durante uma hora, a 13 de janeiro. Um aviso.

Assumindo liderar uma oposição dividida e com os seus principais dirigentes presos ou exilados, Guaidó declarou Maduro, que a 10 de janeiro tomou posse para mais um mandato, “usurpador da presidência”.

Faz parte da geração de universitários que se opuseram a Chávez. Em 2007, participou no movimento que determinaria a única derrota eleitoral chavista, o referendo para a reforma da Constituição. Em 2009, participou na fundação do partido Voluntad Popular. Foi eleito deputado. Porém, era, até há dias, um relativo desconhecido, nome de fora das listas de “perigosos” oposicionistas, elaboradas pela polícia e pelo regime. A sua sorte.

“Uma cara fresca, homem de consensos respeitado por moderados e radicais”, para alguns analistas, “inexperiente e com discurso ambíguo”, para outros, Juan Guaidó tornou o dia em que se autoproclamou presidente da Venezuela, iniciando uma crise presidencial na Venezuela, um marco incontornável na historia do país. Foi a 23 de janeiro de 2019, obrigando o país e o Mundo a reagirem.

Tem na mulher, Fabiana Rosales, o maior apoio. Com formação em comunicação social, Fabiana é militante do Voluntad Popular, trabalhou na Assembleia Nacional. O casal tem uma filha. Miranda, homenagem ao herói precursor da independência venezuelana, Francisco Miranda.