José Miguel Almeida: o explorador das minas subaquáticas

José Miguel Almeida dirige a equipa que criou o EVA, um robô que permite fazer o mapeamento de todo o ambiente subaquático

Texto de Ana Tulha

Só na Europa há entre seis e sete mil minas submersas. Destas, 2 750 estão situadas a baixa profundidade – e a sua exploração bastaria para aumentar em mil vezes o minério produzido atualmente. É aqui que entra José Miguel Almeida, investigador coordenador no Centro de Robótica e Sistemas Autónomos do INESC TEC e um dos rostos da equipa portuguesa que integra o projeto europeu VAMOS (Viable Alternative Mine Operating System), financiado pelo programa da Comissão Europeia Horizonte 2020.

Um projeto já concluído, com trabalho feito: graças à ajuda do núcleo de investigação do INESC, foi desenvolvido um sistema robótico que permite a exploração de minério em minas abandonadas e inundadas. “Neste sistema, há uma máquina de mineração – uma escavadora de 25 toneladas, que vai partindo e estilhaçando a pedra e bombeando-a para a superfície -, uma barcaça de apoio, para ser possível fornecer a energia, e o robô EVA, que é um veículo autónomo subaquático, que serve para apoiar a operação”, simplifica José Miguel Almeida, também docente do ISEP.

O investigador, de 48 anos, empolga-se quando fala do EVA. Afinal, esse submarino de inspeção autónomo foi criado de raiz pela equipa que lidera. “Entre outras coisas, permite fazer o mapeamento de todo o ambiente subaquático e consegue operar debaixo de água durante cerca de sete horas.” O Centro de Robótica e Sistemas Autónomos do INESC TEC foi ainda responsável por todos os sistemas sensoriais que permitem a navegação e a operação do robô de 25 toneladas.

Vantagens? “Uma é conseguir minerar sem retirar a água, até porque, além de ter consumos energéticos significativos, o processo pode criar alguns riscos ambientais, como a desertificação do terreno envolvente. Outra vantagem é que, ao minerar debaixo de água, não há explosões, não há vibrações, não há barulho, não há poeiras, não há contaminação de águas locais. É uma tecnologia muito mais limpa. E não há pessoas em risco, o que torna tudo mais seguro. Além da possibilidade de reduzir os custos”, resume o mestre em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, pela FEUP.

Prognósticos quanto ao timing da chegada dessa tecnologia ao mercado ainda não há, mas os testes efetuados durante dois meses na mina inundada de Magcobar, em Silvermines (Irlanda), e as duas demonstrações públicas entretanto efetuadas deixaram boas perspetivas. “Houve várias empresas que se mostraram interessadas em ter demonstrações para avaliar o sistema”, garante.