Joaquim Monchique: “Tenho uma parabólica da NASA na cabeça”

Foto: Pedro Granadeiro/Global Imagens

Por Sara Dias Oliveira

Vejo bem… Tenho uma parabólica da NASA na cabeça. Tenho uma memória fotográfica inacreditável. A minha cabeça é como um computador. É igual. Observo, registo, coloco numa pasta. Quando preciso de compor uma personagem, abro essa pasta. O êxito da minha profissão é esse, imitar a vida. E eu tenho essa capacidade. Sou muito observador, muito rápido a apreender as coisas. Na escola, já era assim. Os professores ainda iam a meio da frase e eu já sabia como ia acabar. Sou um bom contador de histórias. Coloco-me sempre na posição da plateia e pergunto-me: “Estou a contar isto bem?”. Sou generoso, adoro dar, sei perfeitamente o que a pessoa gosta. Mas há poucas pessoas que me sabem dar, quase sempre acertam ao lado. Sou muito teimoso quando acho que tenho razão. Concretizo o que quero. Sou muito curioso. A curiosidade é a maior virtude do ser humano, a principal arma do ser humano. Sou a curiosidade em pessoa.

Vejo mal… Sou muito impaciente. Muito impaciente. Não tenho paciência para nada, quero tudo para ontem porque, na minha cabeça, está feito. Tenho pouca paciência para pessoas burras. Não no sentido de terem mais ou menos neurónios – há pessoas que vêm com mais e outras com menos -, mas sim no sentido de o erro estar à vista e insistirem e continuarem a insistir. Sou muito distraído. “Tu não vieste com mãos.” É uma frase da minha mãe. Dá-me qualquer coisa nas mãos, o que toco cai, parte-se. Não vim com mãos, mas vim com uma cabeça muito bem estruturada. Tão obstinado que, às vezes, deixo de ver. Tenho um foco lixado.