Joana Caldeira: guerra declarada às dores lombares

D.R.

Texto de Ana Tulha

E se uma investigação conduzida a partir do Porto puder ajudar a melhorar a vida de mais de metade da população mundial? O desígnio é arrojado, à primeira vista utópico, mas está mais perto de se tornar realidade do que se possa pensar.

Muito graças a Joana Caldeira, investigadora do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) e do Instituto de Engenharia Biomédica (INEB), ambos da Universidade do Porto. Esta cientista portuense, de 35 anos, tem-se debruçado sobre a regeneração dos discos intervertebrais (existentes na coluna), frequentemente responsáveis pelas dores lombares.

Os progressos feitos fizeram dela uma das quatro portuguesas distinguidas, em fevereiro, pelas “Medalhas de Honra L’Oréal Portugal”, com direito a um prémio de 15 mil euros. Que investigação é esta? Vamos por partes. Primeiro, importa dizer que a dor lombar afeta perto de 70% da população mundial e que é responsável por cerca de 150 milhões de dias de baixa médica em todo o Mundo.

Acresce que, até agora, não há tratamentos eficazes a longo prazo, em parte porque a injeção de células estaminais se tem revelado infrutífera. É aqui que entra a investigação de Joana Caldeira. A ideia é utilizar a tecnologia de edição do genoma CRISPR para reativar genes do microambiente fetal, abrindo caminho à regeneração dos discos intervertebrais.

Confuso? Então pense numa ferramenta de edição de texto, em que pode apagar e reescrever frases. No caso da tecnologia CRISPR, as frases são os genes. “[Esta ferramenta] vai permitir-nos ativar genes fetais no adulto e vamos conseguir dar um ambiente mais acolhedor às células estaminais que iremos utilizar nas terapias. Atualmente, já há terapias propostas com células estaminais, mas estas células não conseguem sobreviver porque encontram um ambiente inóspito”, descodifica Joana Caldeira, à “Notícias Magazine”.

Formada em Microbiologia na Universidade Católica do Porto e doutorada em biomedicina pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Joana Caldeira tinha já recebido, no ano passado, um financiamento de 25 mil euros atribuído pela Eurospine (Sociedade Europeia da Coluna). Segue-se a validação em animais.

“Só depois pode ser feita a validação em humanos, através de ensaios clínicos”, explica a investigadora, antecipando que, até que a terapia esteja acessível no mercado, sejam precisos entre seis e dez anos. Joana tem-se dedicado ainda a várias iniciativas de comunicação de ciência, por achar essencial “mostrar à sociedade que a aposta na ciência é fundamental para um futuro melhor”. De preferência, um futuro sem dores lombares.