Joana Cabral: a matemática do cérebro

Aos 34 anos, Joana Cabral tem um currículo que impressiona. Pelo meio, já teve dois filhos, e está grávida do terceiro. (Foto: DR)

Texto de Ana Tulha

Se desafiarmos Joana Cabral a explicar, numa só frase, o propósito do trabalho de investigação que tem vindo a desenvolver na Universidade do Minho – no domínio de Neurociências do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde -, a resposta é aparentemente simples: criar um modelo matemático unificador, capaz de representar os mecanismos biofísicos que governam a atividade cerebral, e assim abrir a caminho a tratamentos mais eficazes para as doenças neurológicas e psiquiátricas.

Já entender o conceito da investigação pode ser uma missão mais complexa. Joana, portuense de 34 anos, avança com um exemplo simples, para ajudar a desconstruir o puzzle. “Quando medimos certas coisas mas não as compreendemos, é tudo caótico. Temos o exemplo dos planetas. Até surgir a teoria heliocêntrica, não havia nenhum modelo que explicasse o movimento deles.”

A ideia é, também no caso do cérebro, chegar a um modelo que permita, no fundo, descrever o comportamento coletivo de biliões de neurónios interligados. “Para já, temos muita informação, mas não conseguimos que ela faça sentido. Falta-nos a fórmula para relacionar tudo.” Como? Conseguindo relacionar os sinais medidos em ressonância magnética funcional com os sinais medidos pelos encefalogramas. “Unindo estes dois campos de investigação, podemos tirar conclusões mais sólidas”, sublinha a investigadora, também filiada na University of Oxford, no Centre for Music in the Brain, na Dinamarca, e na Fundação Champalimaud.

A acontecer, o impacto no campo da neurociência será significativo. “Quando chegarmos a este modelo, estamos mais perto de perceber porque é que os padrões aparecem alterados quando há doenças psiquiátricas. É uma investigação com imenso potencial.” A garantia de Joana é confirmada pelo facto de a investigadora ter sido, em fevereiro, distinguida com o prémio Mulheres na Ciência, atribuído pela L’Oréal.

Mas a história de sucesso desta portuense começa bem antes, quando, na sequência do mestrado em Engenharia Biomédica, na Universidade Nova de Lisboa, decide fazer trabalho de campo no Hospital Júlio de Matos, na área da epilepsia. “Aí comecei a interessar-me mais pelos sinais cerebrais e pela psiquiatria.”

Depois veio o doutoramento em Neurociência Teórica e Computacional e dois pós-doutoramentos, em Barcelona e Oxford, na mesma área. Até que em 2017 chegou ao Minho. Começava aí o desafio de descodificar a matemática do cérebro.