“Já levámos mais injeções do que todos os que frequentam o Serviço Nacional de Saúde”

(Ilustração: Mafalda Neves)

Esta semana temos connosco o presidente do Novo Banco, António Ramalho. Antes de começarmos a entrevista que nunca fiz, queria dar-lhe este envelope com 20 euros, bem sei que não é muito, mas sempre é uma ajuda para o seu banco e, na verdade, hoje em dia, eu estou um bocado viciado e não consigo estar muito tempo sem gastar dinheiro no Novo Banco.
Obrigado. Provavelmente vamos ter, em breve, mais uma injeção de capital de 700 milhões de euros, mas sempre é uma ajuda.

Muitas injeções já levaram vocês, não é?
Sim, nós, por brincadeira, dizemos que já levámos mais injeções do que todos os que frequentam o Serviço Nacional de Saúde.

E saem bem mais caros. Com o que já gastámos no Novo Banco fazíamos cinco novos hospitais. E, se bem me recordo, o Novo Banco era o banco bom. Não teria sido melhor ficarmos com o banco mau?
Na realidade, banco mau é um pleonasmo e um eufemismo. É um banco que acumula figuras de estilo.

Compreendo. Mas para poder haver algum sentido nisto, proponho a criação de um banco péssimo, porque maus são todos os outros. Não vão faltar banqueiros com provas dadas para gerir um banco péssimo. Assim de memória, temos o Rendeiro, o Salgado, temos muito boa gente do BPN. Todos menos o Carlos Costa. O governador do Banco de Portugal ia querer dar bom nome ao banco péssimo. Vinha para os jornais dizer que a situação do banco péssimo era boa e isso ia estragar a reputação do banco.
O senhor não imagina o que é ser presidente de um banco e a trabalheira que dá.

Não imagino, mas tenho trabalhado imenso para os pagar. Por exemplo, o senhor aufere um ordenado de 23 542 euros por mês. Não é mau para um banco bom. O que eu acho curioso são estes dois euros. Não conseguia sobreviver com 23 540 euros por mês?
Era complicado. Tinha de cortar nos cafés.

Toma muitos cafés?
Um bocadinho. E o senhor?

Eu nem por isso porque o Novo Banco tira-me o sono. Eu ainda me lembro de ter ouvido o António Costa e o ministro das Finanças, quando ofereceram de dote o Novo Banco ao Lone Star, a dizer que não íamos lá meter mais massa. Afinal, é como aqueles filhos que saem de casa e se casam, mas nós continuamos a pagar mesada.
As coisas nem sempre correm como se espera.

Pois. Ao menos o Novo Banco podia oferecer uma prenda de Natal a todos os portugueses.
Falir?

Não. Compravam dez milhões de cornettos para nós comermos com a testa.

 

Novo banco velhos prejuízos

O Novo Banco divulgou prejuízos de 572,3 milhões de euros nos primeiros nove meses de 2019, mais 46% do que no mesmo período do ano passado, justificados pelas perdas de 712,4 milhões de euros nos ativos tóxicos com que ficou do BES.

O Fundo de Resolução deverá voltar a ser chamado a injetar dinheiro na entidade bancária presidida por António Ramalho. O valor final só será conhecido em 2020, após o fecho das contas de 2019, e variará consoante o que vier a acontecer até final do ano. Segundo o que foi acordado em 2017, na venda do Novo Banco ao fundo Lone Star, o Fundo de Resolução poderá compensar perdas até 1 900 milhões de euros.