
Texto de Sara Costa e Sena
Atualmente, passa-se grande parte do tempo no local de trabalho. São oito a dez horas diárias em que a relação entre colegas e chefias deve ser a mais saudável possível. As empresas definem objetivos individuais e coletivos apontados ao aumento da produtividade, ao crescimento.
No entanto, para tal acontecer, toda a comunidade laboral deve estar em sintonia. O que fazer para manter o ambiente de trabalho saudável? “O coaching pode ser uma das ferramentas que poderá ajudar na manutenção da saúde mental de todos.” Quem o afirma é Paula Capaz, coach profissional e uma das fundadoras da Coaching-PT.
Com experiência na área, Paula Capaz revela que “as empresas investem no coaching individual para os seus colaboradores”, e que esta ferramenta, na sua dimensão mais ampla, “se foca na aceitação do erro e na busca contínua de soluções que proporcionem bem-estar nas organizações”.
Exemplos? A Bresimar Automação, sediada em Aveiro, “aposta numa cultura de valores com o objetivo de motivar, premiar, respeitar e valorizar todos os que fazem parte desta grande equipa”, realça Pedro Neno, diretor do departamento de marketing e comunicação. Não foi só através do coaching que a empresa definiu uma política de desenvolvimento e motivação para colaboradores ou um tipo de liderança-exemplo. No entanto, o grupo concorda que, para os funcionários se sentirem felizes, “é necessário investir neles e motivá-los”.
Às segundas-feiras pelas nove da manhã, a equipa desta empresa especializada em equipamentos, sistemas e soluções para automação industrial, tem acesso a ginástica laboral. “Todos afirmam que esta iniciativa aumentou a motivação e a comunicação entre elementos de equipa”, prossegue Pedro Neno.
“Para sabermos se somos uma empresa feliz, temos uma avaliação de satisfação que nunca é anónima e tem como principal objetivo recolher sugestões, opiniões sobre práticas implementadas e o que é necessário para melhorá-las ou reunir novas ideias para o futuro.” Esta é, portanto, uma política de comunicação aberta. Paula Capaz defende que este tipo de abordagem “é uma das atitudes que podem ajudar ao sucesso de um programa de coaching numa empresa”.
Porém, outras abordagens são possíveis, nomeadamente através da escuta ativa, do comportamento focado na solução de problemas e da busca de evolução, e que são igualmente importantes na busca do sucesso.
“O trabalho deve ser uma extensão de nossa casa e, por isso, as nossas cozinhas estão recheadas de lanches da manhã e da tarde para os funcionários. E sempre que se atingem objetivos, há um almoço de leitão à Bairrada para toda a equipa.” (Pedro Neno, Bresimar Automação)
Nem só de palavras vivem os colaboradores da Bresimar Automação. “O trabalho deve ser uma extensão de nossa casa e, por isso, as nossas cozinhas estão recheadas de lanches da manhã e da tarde para os funcionários. E sempre que se atingem objetivos, há um almoço de leitão à Bairrada para toda a equipa”, enfatiza Pedro Neno.
Para este ano, o grupo quer criar um espaço social dentro do parque industrial, composto por sala de convívio, sala de refeição, gabinete médico e de fisioterapia, consultas de nutrição e aulas de pilates. “São 37 anos a executar uma cultura organizacional de informalidade, de proximidade, de respeito e sobretudo de confiança e responsabilização dos talentos pelo seu próprio trabalho, dando-lhes autonomia para realizarem as suas tarefas no dia-a-dia”, orgulha-se Pedro Neno.
Quem dirige também é um foco para a evolução das organizações. No coaching, Paula Capaz refere que os líderes devem fazer parte da equação. “Diagnósticos, perfis de personalidade, ferramentas de comunicação, entre outros, podem ser aplicados a quem precisa de liderar diariamente uma equipa, ajudando na transparência e no bom ambiente de trabalho.”
No caso da Bresimar, “a maior parte dos nossos líderes já teve acompanhamento ao longo de alguns anos na área do coaching”. Além disso, a organização é acompanhada por uma equipa de “coaches” que coopera com as lideranças e com as equipas na melhoria da gestão e motivação das pessoas, na comunicação e na forma de liderança.
E o dinheiro? Será a remuneração salarial uma motivação a longo prazo para os funcionários? E a ideia de progressão na carreira? É importante para nos mantermos satisfeitos diariamente?
“Temos prémios monetários”, confirma Pedro. “Mas no inquérito de satisfação percebemos que os nossos colaboradores acham que a remuneração ao final do mês não se traduz na total felicidade dos nossos talentos.” Mesmo não sendo o principal efeito motivador, a empresa concorda que deve existir uma política de motivação através do dinheiro e que os que os salários ajustados ao talento e competências de cada um são, a par da progressão de carreira, importantes para quem ali trabalha diariamente.
A felicidade e o sentido da vida
Mihaly Csikszentmihalyi desenvolveu um pensamento baseado em duas questões fundamentais: “Por que razão é tão difícil ser feliz?” e “Qual é o significado da vida?”. O professor e psicólogo húngaro acabou por concluir, num estudo, que embora a falta de recursos básicos não ajude, a riqueza não traz felicidade, e o crescimento económico não é o principal fator para uma população ser mais feliz.
Assim, Mihaly assume, nas suas palestras, que “há um estado que é o segredo para a felicidade”. O “estado flow” significa estar completamente concentrado de forma positiva e satisfatória quando executamos uma atividade. Esta corrente de pensamento positiva é também transposta para o ambiente de trabalho. O psicólogo defende que este estado ajuda a aumentar a produtividade e a atingir objetivos, mas que tal só será possível quando realmente fazemos algo que gostamos, algo que nos desafia diariamente.
Ou seja, a mente também deve ser aperfeiçoada para se alcançar felicidade. É nesta vertente que as empresas procuram o ioga para aliviar o stresse e aumentar a felicidade no trabalho. A Confederação Portuguesa do Yoga é procurada por várias empresas para organizar aulas. “De norte a sul do país são várias as empresas e instituições que recorrem à implementação da prática do ioga nas suas instalações, disponibilizando aulas regulares aos funcionários”, reconhece Mestre Sandra Xavier, vice-presidente da organização com sede em Lisboa.
A Porto Business School é uma das empresas que, desde 2017, decidiu implementar aulas de ioga nas suas instalações, todas as sextas-feiras, pelas 13 horas. “Decidimos proporcionar estes pequenos benefícios à nossa equipa para podermos ter colaboradores mais concentrados”, diz Márcia Coelho, diretora dos recursos humanos. Receita: concentração e meditação.
“O trabalho é muito em frente ao computador, muito sedentário, e acreditamos que os nossos colaboradores beneficiam fisicamente com o Yoga.” (Márcia Coelho, Porto Business School)
“Estas técnicas permitem um intenso treino no uso total de todos os compartimentos cerebrais, ajudando no aumento de desempenho, na manutenção da concentração e a lidar com climas emocionais adversos”, assinala Sandra Xavier.
Márcia Coelho aponta outro motivo para o ioga fazer parte da semana da empresa. “O trabalho é muito em frente ao computador, muito sedentário, e acreditamos que os nossos colaboradores beneficiam fisicamente com esta atividade.”
A Mestre Sandra Xavier sublinha que “as doenças musculoesqueléticas são o maior problema nas organizações, reflexo de posições inadequadas ao longo do dia de trabalho, bem como as lesões provenientes da repetição de movimentos”. Com o seu conjunto de exercícios, o ioga fortalece a coluna vertebral e previne um conjunto de patologias, além de ajudar a manter um peso saudável. “Outra grande vantagem é o alcance de relaxamento e alívio do stresse, através de técnicas respiratórias.”
A vice-presidente da Confederação Portuguesa do Yoga recomenda que “as organizações mudem o seu paradigma de atuação, tornando-se intervenientes sociais e essa intervenção tem que começar nos seus trabalhadores”. Sendo o ioga uma via de autoconhecimento e de autoaperfeiçoamento, contribui para um bom ambiente de trabalho, pois “quem pratica é estimulado constantemente a conviver com o melhor de si, a exigir de si e não dos outros, e a dar em vez de pedir”.
A Porto Business School aposta noutras intervenções para os 50 colaboradores. “Criámos um gabinete médico nas nossas instalações para darmos algum conforto adicional, e temos sempre fruta para todos. Pontualmente, proporcionamos massagens aos funcionários e apostamos em ações pontuais de celebração como o Natal, o São João, etc. Os protocolos com ginásios, clínicas médicas e outros são também importantes.”
Seja através de exercícios físicos, mentais, prémios monetários ou melhoria de instalações, das organizações espera-se uma atenção crescente ao grau de satisfação de quem veste a camisola diariamente. Cabe também ao trabalhador alcançar o seu estado flow para desempenhar uma tarefa com satisfação. Porém, à falta destas ferramentas, pode sempre dizer “bom dia” ou “bom fim de semana”. Pode fazer um mundo de diferença.